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José Vicente Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Desmond Tutu, fé operária que removeu montanhas

Na luta do bem contra o mal do apartheid sul-africano, se Nelson Mandela foi o símbolo visível e catalizador, Desmond Tutu foi seu espirito combatente

Por José Vicente
28 dez 2021, 16h35
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  • Nunca a máxima a fé remove montanhas esteve tão bem acomodada como na vida e obra do fulgurante arcebispo sul-africano Desmond Tutu. Um jovem negro frágil e descrente, diante de um regime oficialmente racista que determinava num risco no chão, os espaços do seu país por onde eles negros podiam transitar. Que definia e separava arbitrariamente as escolas, igrejas, transporte e demais ambientes que eles negros poderiam frequentar, e, até os bebedouros que pudesse utilizar. Que determinava, a priori, a vida a ser vivida, o sonho a ser o sonhado, o caminho a ser caminhado e até a fé que se pudesse ser acreditada.

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    Naquele mundo demoníaco da descrença e da impotência do seu tempo, onde as forças do mal violentavam e desfiguravam a verdade sagrada de que Deus fez todos os homens e mulheres à sua imagem e semelhança, e, a verdade política de que todos os homens nascem livres e iguais em direitos e obrigações, Desmond Tutu, contrariando tudo e a todos escolheu justamente acreditar e confiar na fé.

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    Por desespero ou constrição sua sabedoria e discernimento permitiu reconhecer que somente uma fé grandiosa e eloquente poderia fazê-lo acreditar na possibilidade de subverter as verdades divinas ofertadas pelo evangelho dos homens de Deus do seu tempo, bem como, apagar as dúvidas e estancar os desânimos que tomavam de sobressaltos seu espirito, diante de tanta ignominia, realizada em nome dele.

    Que outro motivo que não a fé desmedida e incontrolável poderia tê-lo feito acreditar que se jogando na cova dos leões do sistema religioso que criava e mantinha aquele estado de coisas poderia primeiramente manter-se vivo, e, depois, convocá-lo e conduzi-lo para lutar a sua batalha? Que outro motivo, afinal, que não a fé lúcida e transformadora poderia vislumbrar a possibilidade de ser vitorioso diante de uma ação de violência e insanidade que nem a razão pode impedir e nem a emoção, confrontar e restabelecer?

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    Somente mesmo os desígnios da fé poderiam fazer essa voz tão potente ecoar pelos quatro cantos do universo e sensibilizar pessoas, sociedade e nações. Somente os mistérios e desígnios da fé podem explicar como um jovem negro simples e sem posses tornou-se líder de um rebanho desgarrado dos propósitos divinos e tenha conseguido conduzi-los pelo vale do Jordão e, definitivamente, remover as montanhas que separava a igualdade e liberdade do brancos e negros sul africanos do jugo do arbítrio e da opressão.

    Na luta do bem contra o mal do apartheid sul africano, se Nelson Mandela foi o símbolo visível, incontrastável, sagrado e catalizador, Desmond Tutu foi seu espirito combatente, convocante e vocalizador. Convicto, inconcessível, incorruptível e justo, devolveu Mandela livre ao povo e apontou e condenou as violências e desumanidades dos brancos e dos negros contra o povo. Depois, na mesa da verdade e da reconciliação, secou e fechou as feridas e promoveu a reconciliação deles e da sua nação.

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    Os negros e brancos da África do Sul devem a Nelson Mandela a reconstituição da liberdade e da igualdade de homens e mulheres independente de sua cor e raça. Todos eles e nós devemos a Desmond Tutu e a sua fé obreira, operária e arrebatadora, a certeza da semelhança de alguns homens e mulheres, a Deus.

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