Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por José Casado
Informação e análise
Continua após publicidade

Um ministro ‘radioativo’ a 100 metros do comitê de Bolsonaro

Confissão de tentativa de restaurar a censura, uma violação constitucional, deixa ministro da Justiça exposto a acusações em plena campanha

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 mar 2022, 15h16 - Publicado em 16 mar 2022, 08h00

Em 37 palavras, o ministro da Justiça, Anderson Torres, confessou a intenção e a coautoria de uma violação da Constituição.

Ele escreveu em redes sociais: “Assim que tomei conhecimento de detalhes asquerosos do filme ‘Como se tornar o pior aluno da escola’, atualmente em exibição na @NetflixBrasil, determinei imediatamente que os vários setores do @JusticaGovBR adotem as providências cabíveis para o caso!!”

A comédia está em exibição desde 2017, com classificação indicativa para maiores de 14 anos. Torres não identificou quem lhe chamou a atenção sobre “detalhes asquerosos”, como julga, mas deixou claro que viu na ficção uma oportunidade de moldar a própria realidade.

Coincidência ou não, ele aspira uma vaga de candidato a deputado pela ala bolsonarista do Centrão, em Brasília. Sua dificuldade estaria na escassez de votos, mas isso pode ser pouco para quem se mostra fascinado pelo espetáculo do seu próprio fascínio.

Ontem, o Diário Oficial estampou o resultado da delinquência ministerial: o governo tentou restaurar a censura. Determinou a cinco empresas privadas de comunicação (Netflix, Globo, Google, Apple e Amazon) que suspendam “a disponibilização, exibição e oferta do filme”.

Torres delegou a uma subordinada, Lilian Claessen Brandão, a assinatura do ato com o selo do Departamento de Defesa do Consumidor.

Continua após a publicidade

Por lei, a principal atribuição do Ministério da Justiça é a “defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das garantias constitucionais”.

Tem-se, agora, uma situação incomum: o servidor público que na hierarquia governamental é legalmente responsável pela zeladoria da Constituição, confessou em público conspiração e ordem para uma violação, executada por uma funcionária submissa.

A Constituição, felizmente, possui uma artilharia de autodefesa. Por isso, o ato de censura do Ministério da Justiça é nulo, sem efeito desde o momento da assinatura. As empresas simplesmente decidiram não obedecer à determinação governamental.

Deputado Miro Teixeira (Rede-RJ)
Miro Teixeira, ex-deputado constituinte: “Governos não revogam a Constituição “— (Cristiano Mariz/VEJA)

“Ela prevalece sobre todas as leis”, explica Miro Teixeira, que foi deputado constituinte. “O inciso IX, do artigo quinto, assegura a liberdade de expressão, independentemente de censura ou licença. Governos não revogam a Constituição.”

Continua após a publicidade

Essa nova tentativa de resgate da censura apenas confirma a sedução autoritária que permeia a temporada eleitoral, perceptível em atos e discursos de alguns candidatos do governo e, também, da oposição.

Já houve ministro da Justiça, Armando Falcão, que deu ordem para censurar uma obra musical porque continha trechos recitados da Declaração de Direitos Humanos — “manobra internacional” contra o regime, foi a justificativa.

Naquele 1974, um general extremista, Antonio Bandeira, montou na Polícia Federal uma rede de informantes para a censura oficial. Mulheres de oficiais militares frequentavam teatros e cinemas com a missão de delatar o que julgassem ofensivo ao estandarte da crença em Deus, na Pátria e na Família – lema que o Barão de Itararé converteu para “Adeus, Pátria e Família!”

Falcão e Bandeira eram generais de uma ditadura. Torres é ministro da Justiça num regime democrático. A violação constitucional, confessa, o deixa exposto a múltiplas acusações, como as de crime de responsabilidade e de prevaricação.  Caso tenha feito consulta prévia ao chefe, pode arrastá-lo no turbilhão da teoria jurídica sobre o domínio do fato.

Por ironia, Anderson Torres virou estrela de um desfecho inimaginável na comédia “Como se tornar o pior aluno da escola”: se tornou um ministro “radioativo” sentado a cem metros do Palácio do Planalto, o comitê de reeleição de Jair Bolsonaro.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.