Problema de Lula nos quartéis e na economia é confiança
O resgate é penoso, mas fundamental na política e na economia
Lula nem completou três semanas de mandato, mas já enfrenta crises originárias de numa única palavra: confiança.
Chefe constitucional das Forças Armadas, tem se esmerado em propalar sua desconfiança em relação aos comandados na caserna.
O histórico de Lula, PT e militares é conflituoso na essência — fundadores do partido perderam em 1964, militares saíram derrotados da longa ditadura.
O alinhamento de comandantes ao bolsonarismo golpista ampliou o fosso, mas, deve-se reconhecer, os fiéis ao ex-presidente são minoria. Do contrário, Lula não estaria governando. Confundi-los equivale a achar que a maioria dos parlamentares e filiados do PT acredita no comunismo e na luta armada.
A falta de confiança mútua é veneno para governo e Forças Armadas. Ambos são braços do Estado brasileiro, sob o poder civil eleito. Na abstração dessa perspectiva, inviabiliza-se o país.
O resgate da confiança é penoso, mas fundamental na política e na economia.
O nó das contas públicas precisa ser rapidamente desfeito para desfrute dessa temporada de ensaio de valorização das commodities e aproveitamento das chances abertas pela corrida de investidores internacionais a países — eles chamam de “mercados” — minimamente estáveis na política doméstica e nas regras econômicas.
Promessas de controle fiscal e de reforma tributária sempre são adequadas ao discurso no teatro político doméstico, mas só funcionam no front do pragmatismo econômico se explicadas em linguagem lógica e quando demonstradas na matemática do caixa. É pedagógica a construção do Plano Real, alvo do negacionismo de Lula e do PT nos anos 90. Houve plena transparência e negociação de cada etapa com o Congresso.
O mundo de Lula é outro e, agora, vai precisar dizer quem pagará a conta do ajuste e em quanto deverá aumentar a carga tributária, por segmentos da economia, para alcançar o reequilíbrio no caixa governamental. É questão de confiança e de previsibilidade — aspectos-chave para qualquer governo ansioso por reduzir expectativas de inflação.