Os riscos de Arthur Lira na proteção a Bolsonaro
Presidente da Câmara não fez um único aceno aos juízes atacados. Circunscreveu a crise a Bolsonaro e o STF, como se o Congresso estivesse fora do alvo
O deputado Arthur Lira (PP-AL) assistiu aos ataques de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal, por razões particulares — a proteção da parentela sob investigação em múltiplos inquéritos criminais.
Ao comentá-los, ontem, o presidente da Câmara, que é réu em processos no STF, tratou a crise institucional como se fosse corriqueira. Não é trivial um presidente da República anunciar, em praça pública, a intenção de não cumprir a Constituição, de desobedecer ordens judiciais e de exigir que juízes sejam “enquadrados”.
No Supremo, observou-se que Lira não fez um único aceno solidário aos juízes atacados. Circunscreveu a crise a Bolsonaro e o STF, como se o Congresso estivesse fora do alvo.
Quando Lira chegou à Câmara, em 1995, Bolsonaro já contava dois anos fazendo o mesmo discurso. Subia à tribuna e receitava “um curto período de exceção, que incluiria, entre outras medidas, o fechamento temporário do Congresso e a suspensão das prerrogativas do Legislativo por seis meses.”
Lira, ontem, se mostrou condescendente com Bolsonaro, que lhe entregou o controle de uma fatia de cerca de R$ 19 bilhões num obscuro orçamento paralelo. Se apresentou como negociador de saída para crise, embora seja parte interessada.
Na proteção excessiva a Bolsonaro, Lira se arrisca ao descrédito na presidência da Câmara, além da combustão da biografia.