Lula e Bolsonaro lideram, mas eleitores querem propostas
Oito de cada dez eleitores dizem que escolha de candidatos terá três critérios: programa de governo (29%), na experiência (27%) e histórico na Justiça (23%)
Lula e Jair Bolsonaro, agora, tentam se descolar dos respectivos partidos.
Ontem, por exemplo, Lula abraçou a candidatura da deputada federal Marília Arraes ao governo de Pernambuco. Ela só é petista até amanhã, quando escolhe mudar para o Solidariedade ou o MDB.
Para Lula, pouco importa a crise no PT pernambucano. E, igualmente, onde a deputada vai se abrigar para disputar — com chance real — o governo do Estado contra o PSB, seu aliado. Relevante é que governo e parte da oposição local estejam com ele.
Bolsonaro segue trilha similar. Ontem, deixou claro o desejo de atravessar a campanha e o próximo governo, se reeleito, mantendo equidistância do Centrão, grupo que tem dois sócios majoritários — o Partido Liberal (PL) de Valdemar Costa Neto, ao qual se filiou recentemente, e o Progressistas (PP), liderado por Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, e Arthur Lira, presidente da Câmara.
“Hoje eu falei que meu vice vai ser mineiro”, disse aos que juntou no Palácio do Planalto para celebrar os seus 67 anos. “Estou vendo aqui o Paulo Guedes e o [Walter] Braga Netto”, acrescentou rindo.
Guedes, ministro da Economia, é carioca, Braga Netto, da Defesa, é de Belo Horizonte. Se não mudar de ideia, Bolsonaro vai à luta pela renovação do mandato na companhia de outro general na reserva. O vice atual, Hamilton Mourão, deve disputar uma vaga no Senado no Rio, pelo Partido Republicanos.
Dessa forma, encerrou publicamente conversas privadas que vinha mantendo com o trio Costa Neto, Nogueira e Lira sobre a escolha do candidato a vice-presidente. Tentavam induzi-lo à escolha de um civil, político profissional e integrante de um dos partidos do Centrão. Ele se descolou, ontem.
A circunstância de dois candidatos líderes na pesquisas optarem pela equidistância dos próprios partidos é uma das peculiaridades desta temporada eleitoral.
Lula começou a fazer isso há três décadas, quando se descobriu maior que o PT nas urnas. Bolsonaro venceu em 2018 por um partido nanico (PSL), agora sócio do antigo DEM no União Brasil, um dos maiores do Congresso.
É notável, também, que isso aconteça numa campanha eleitoral onde a prioridade “zero” de 35 partidos é a eleição da bancada de deputados federais, decisiva para o acesso futuro aos fundos públicos que sustentam as estruturas partidárias. A disputa presidencial é a segunda prioridade, exceto no PT que ainda gravita em torno de Lula.
Lula e Bolsonaro, por enquanto, continuam favoritos no cenário típico de uma eleição por rejeição — confirmado na pesquisa BTG/FSB divulgada ontem, com duas mil pessoas entrevistadas por telefone, entre os dias 18 e 20.
Quando perguntados em quem votariam, os eleitores responderam, espontaneamente: Lula (38%) e Bolsonaro (27%). Ambos concentram, hoje, ampla maioria (65%) das intenções de voto.
Segue-se um vácuo (26%), resultado da soma das manifestações de absoluta incerteza (15%), de voto branco ou nulo (4%) ou, à princípio, em “nenhum” candidato (7%).
Sobra pouco (8%) dos votos possíveis para os demais candidatos. Nesse grupo se destacam Ciro Gomes (4%) e Sergio Moro (3%), em virtual empate.
Há notável coerência entre as respostas espontâneas e as estimuladas pela apresentação da lista de candidatos. Elas sugerem dois candidatos competitivos, empatados em segmentos como o do voto evangélico. Aparentemente deixam pouco espaço para outros avançarem.
Mas essa margem existe, segundo os próprios eleitores, que informam: a decisão de voto tomada hoje não vale até outubro para uma parcela significativa (28%).
Mudança de candidato é possibilidade admitida por eleitores de Lula (18%) e de Bolsonaro (16%).
Detalhe importante: ampla maioria (60%) declara que não pretende ir às urnas para derrotar alguém que não gostaria de ver eleito presidente da República. Só uma fração (24%) admite mudar o voto de hoje para derrotar Bolsonaro ou Lula (9%) em outubro.
Oito de cada dez eleitores dizem que na hora de apertar botões na urna eletrônica pretendem escolher com base em três critérios: no programa de governo (29%), na experiência prévia como gestor público (27%) e no histórico do candidato na Justiça (23%).
Entre a intenção de hoje e a certeza em outubro resta uma longa distância — com intempéries no meio, como os efeitos econômicos de uma guerra a dez mil quilômetros de distância.