A Lava-Jato acabou, lamentam alguns, festejam outros. No entanto, ela paira como sujeito oculto na temporada eleitoral.
Lula celebra o relatório do comitê da ONU aprovado por maioria e pontuado por votos divergentes relevantes.
Jair Bolsonaro provoca o Judiciário, surfando na crítica pública aos “exageros” do Supremo, que anulou e reabilitou o adversário do PT, há nove meses líder nas pesquisas eleitorais.
Numa mesa de jantar em Brasília, na quarta-feira, produziu-se uma sutil lembrança do vigor do Legislativo recentemente resgatado dos escombros da Lava-Jato.
Presidentes da Câmara e do Senado retribuíram no dia seguinte, em público. Indicaram a Bolsonaro limites para o seu entusiasmo na guerra particular contra o STF. O pretexto foi a nova referência do candidato à reeleição em comício no Palácio do Planalto, na véspera, à hipótese de suspensão das eleições.
Ele traçou um raciocínio tortuoso para concluir: “Não pensem que uma possível suspensão de uma eleição seria só para presidente, isso seria para o Senado, para a Câmara, se tiver algo de anormal”. Seguiu-se um ritual de críticas à fantasia bolsonarista, que os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, divulgaram nas respectivas redes sociais.
Ontem à noite, em Florianópolis, Lira foi homenageado por empresários. Do vice-presidente da federação das indústrias ouviu uma crítica ao Judiciário — “é preciso seguir a legislação, e não a vontade dos intérpretes da legislação”.
A relação simbiótica de interesses com o candidato à reeleição embaraça Lira e seus sócios no condomínio do Centrão, o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) e o dono do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto.
Bolsonaro deu-lhes a condução do governo e, principalmente, um orçamento paralelo de rarefeita transparência.
Eles têm ao menos 30 bilhões de reais em motivação para se manter alinhados ao governo, ajudando a expor o Judiciário em isolamento nos momentos considerados relevantes para o candidato.
Não significa que concordem plenamente com Bolsonaro, mas suas fantasias autoritárias têm utilidade efetiva na relação do Congresso com o Supremo.
Contam-se em três centenas o total de parlamentares dependentes de sentenças no STF. Em contrapartida, há três dezenas de pedidos de impeachment de juízes do Supremo no Senado, além do apresentado por Bolsonaro no ano passado que foi arquivado imediatamente pelo senador Rodrigo Pacheco.
Esse balé do Congresso vai atravessar a temporada eleitoral, com líderes do Centrão, o grupo parlamentar mais afetado nos inquéritos do mensalão e na Lava-Jato, se exibindo em tática de boxe: proteger-se e bater, sempre que possível. Com o cuidado de não ficar nem levar ninguém a nocaute. Porque crise é ruim para os negócios.