Justiça faz ataque preventivo no mercado de notícias falsas
Inquérito contra Bolsonaro, filhos parlamentares, o candidato a vice Braga Netto e 42 pessoas da extrema-direita mostra que fake news é negócio milionário
Mudança relevante na campanha: o juiz Benedito Gonçalves, Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral, decidiu realizar ações preventivas no mercado de notícias falsas eleitorais.
Ontem, enquadrou numa investigação Jair Bolsonaro, seus três filhos parlamentares, o candidato a vice-presidente Walter Braga Netto, e outras 42 pessoas, entre elas alguns integrantes do grupo parlamentar da extrema-direita bolsonarista.
Ao justificar o ataque preventivo, com suspensão parcial das linhas de produção de notícias falsas alinhadas ao candidato à reeleição, o juiz Gonçalves escreveu: “Esse exame não se confunde com aquele realizado no julgamento de mérito e não antecipa a conclusão final, que deverá avaliar ‘in concreto’ os efeitos das condutas praticadas, a fim de estabelecer se são graves o suficiente para conduzir à cassação de registro ou diploma e à inelegibilidade.”
Foram afetadas atividades dos provedores de conteúdo Brasil Paralelo, Foco do Brasil, Folha Política e Dr. News no YouTube. Segundo o Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral, são todos mantidos por pessoas jurídicas.
A ação de investigação indica que, no Brasil, os negócios com fake news políticas passaram a ter movimento financeiro significativo para os padrões de produção de conteúdo nas redes.
Brasil Paralelo, por exemplo, gastou R$ 3 milhões durante o ano passado somente no impulso de notícias falsas sobre o processo eleitoral e adversários de Bolsonaro na disputa presidencial. Entre novembro e junho registrou despesa de R$ 368 mil em veiculação nas plataformas Google. E, em apenas uma semana (9 a 15 de outubro) da campanha do segundo turno, pagou mais R$ 715,4 mil em “anúncios sobre temas sociais, eleições ou política”.
Três canais no YouTube (Foco Brasil, Folha Política e Dr. News) reúnem sete milhões de inscritos, e têm receitas acima de R$ 340 mil mensais.
Foco Brasil tem como proprietário Anderson Rossi, citado como pessoa com acesso ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.
Folha Política aparece em registros judiciais anteriores como financiada com R$ 24 mil extraídos da verba parlamentar do ex-deputado federal Fernando Francischini, do União Brasil do Paraná, cassado por difundir notícias falsas sobre manipulação do processo eleitoral.
O canal Dr. News já teve receita suspensa, por decisão judicial, e hoje vive de contribuições via Pix.
O mapeamento financeiro das redes vinculadas ao clã Bolsonaro foi iniciado em inquéritos determinados pelo Supremo Tribunal Federal e, agora, está sendo ampliado pela Justiça Eleitoral. Os indícios confirmam: sob Bolsonaro, desenvolve-se um vigoroso mercado de notícias falsas na política brasileira.