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Debates em São Paulo e no Rio: o risco da leniência política com o crime

São Paulo e Rio diferem na escala de degradação institucional. Porém, como ficou claro nos debates VEJA, sobram razões para inquietude com o futuro

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 set 2022, 07h42 - Publicado em 18 set 2022, 06h00
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  • Os debates dos candidatos aos governos de São Paulo e do Rio, no sábado, mostraram que na política brasileira molda-se um país arcaico do futuro.

    Línguas de candidatos sempre ficam mais afiadas na esgrima de palanque, mas pouco estão conseguindo acrescentar ao eleitorado.

    No Rio, o governador Claudio Castro, candidato à reeleição  pelo Partido Liberal e líder nas pesquisas, renovou sua fé na letalidade para reduzir índices de violência no estado: “A polícia tem de utilizar de todos os meios necessários”, argumentou. Nos últimos 16 meses, ele governou sete dezenas de chacinas policiais nas favelas, com média de 4,6 mortes por ação. Quem governa, lembrou, “não pode ser frouxo”.

    Ao jogo ambíguo de palavras com sons parecidos com o do seu sobrenome, o adversário Marcelo Freixo, do PSB, rebateu: “É, só não pode ser bandido, ladrão, e você colocou um bandido para chefiar a polícia” — referência ao ex-secretário Allan Turnowski, candidato a deputado federal pelo PL, preso na semana passada acusado de atuar como agente duplo, da lei e do crime.

    “Freixo é fake”, interveio o candidato Paulo Ganime, do Partido Novo. Evocou a convivência como deputados federais na rotina legislativa. “Defendeu bandido”, criticou, “não comparecia às sessões da Comissão de Segurança Pública nem mesmo quando era relator de algum projeto. Nem votou também [nas regras sobre] a ‘saidinha’ [temporária de presidiários]. O partido dele [PSB] votou, mas ele se ausentou. E olha que podia votar até por aplicativo.”

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    Em quase duas horas de debate confirmaram que o futuro do segundo maior e mais rico estado brasileiro está condicionado pela célere expansão do poder paralelo das narcomilícias — elas já substituíram a Constituição por leis próprias na vida de um de cada cinco habitantes daquele pedaço do território brasileiro.

    Já no palanque paulista, os candidatos se preocuparam em adotar um tom mais suave na discussão de uma lista de prioridades de governo mais abrangente.

    Nela se destacaram: expansão das linhas de metro e de trens na região metropolitana; educação em tempo integral nos ciclos infantil e de ensino fundamental; qualidade dos serviços de saúde; retomada de obras paradas e promoção da igualdade de gênero na administração pública.

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    Surgiram diagnósticos e propostas defeituosas. Fernando Haddad, do PT e  líder nas pesquisas, sugeriu que o declínio da indústria de calçados em Franca se deve à política tributária estadual (ICMS), abstraindo a perda de poder de competição para fornecedores externos, principalmente da China.

    Na luta pela reeleição, o governador Rodrigo Garcia, do PSDB, até reivindicou direitos autorais sobre algo que não é seu, a polêmica redução de impostos sobre combustíveis decidida pelo Congresso.

    Na essência dos debates, São Paulo e Rio pareciam planetas distantes numa mesma galáxia. Se aproximaram, no entanto, no capítulo da segurança pública.

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    A violência policial em São Paulo é menos visível, porque menos concentrada, do que no Rio, mas tem peso específico similar nas favelas.

    Tarcísio de Freitas, do Republicanos, supõe que a solução está na mensagem governamental: “Bandido tem que saber que a polícia tem respaldo.”

    Sua aposta é na força das armas e vai além da retórica, com a promessa de “reavaliar” a inovação local das câmeras acopladas nos uniformes policiais, sistema de eficácia comprovada em vários países na inibição de excessos contra cidadãos.

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    Confrontado, se perdeu e acabou prisioneiro do improviso numa conta de padaria: “O monitoramento de presos [soltos por decisão judicial] sai muito mais barato que colocar câmera corporal”.

    O desconforto cresceu quando jornalistas mencionaram indícios de avanço da influência do crime organizado na política paulista — um filme antigo no Rio. Questionou-se a lentidão dos partidos políticos em agir para autoproteção contra infiltrações.

    Haddad, cujo PT enfrenta problemas com episódios do gênero, se refugiou no formalismo jurídico do “devido processo legal” e culpou os eleitores por eventuais más escolhas na votação.

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    Tarcísio renovou a fé no tratamento “implacável” ao banditismo. Não escondeu a surpresa diante da lembrança de que o seu partido, o Republicanos, tem um prefeito na região metropolitana acusado de representar os interesses de uma poderosa máfia de presidiários.

    São Paulo e Rio diferem na escala de degradação institucional. Porém, como ficou claro nos debates VEJA, em parceria com SBT, Estadão, Terra e Nova Brasil FM, sobram razões para inquietude com o futuro dois lados das fronteira estaduais.

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