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Jorge Pontes

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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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Alfredo Sirkis: a morte do guerreiro verde

Uma grande baixa: Sirkis se foi abruptamente, num momento em que as urgências ambientais se tornam cada vez mais sombrias

Por Jorge Pontes
13 jul 2020, 16h19
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  • A morte trágica e inesperada do escritor e ambientalista – de primeira hora – Alfredo Sirkis, vitimado por um acidente de automóvel ocorrido na última sexta-feira, dia 10 de julho, trouxe um sentimento de perda que vai muito além do ser humano que nos deixou.

    Sirkis se foi abruptamente, num momento em que as urgências ambientais se tornam cada vez mais sombrias. Seu desaparecimento, nesse aspecto, foi de fato uma grande baixa.

    Nenhum homem público impacta mais o seu tempo – e as instituições nas quais opera – do que aquele que se engaja diretamente em projetos que envolvem preocupações com o conceito de sustentabilidade.

    Não há legado mais transcendental do que a obra de viés ambiental, pois ela encerra em si, o próprio fato portador de futuro. E cuidar do meio ambiente é, sobretudo, empreender uma viagem no tempo.

    Sirkis, como gestor ambiental do Município do Rio de Janeiro, orientou a construção de 80 quilômetros de ciclovias na cidade e, ainda, promoveu o reflorestamento de 660 hectares (mais de 6 milhões de metros quadrados de área desmatada), incluindo 50 comunidades da urbe carioca. Entre essas encostas está o Morro Dois Irmãos, que domina a paisagem da orla da Zona Sul.

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    Conheci Sirkis há muitos anos, quando estava eu mesmo envolvido na criação e estabelecimento da Divisão de Repressão aos Crimes Ambientas – e de suas 27 delegacias especializadas – no âmbito da Polícia Federal, área hoje responsável pelo combate aos delitos cometidos contra o meio ambiente, em todo o território nacional, incluindo aí o desmatamento criminoso da região amazônica.

    Foram nesses anos que travei contato com alguns parlamentares ambientalistas, como Fernando Gabeira, Marina Silva, Carlos Mink e com o próprio Sirkis. Todos tinham em comum, acima de tudo, o idealismo. E não se tratava de ideologia, mas de utopia e de sonho.

    Mas, voltando à realidade insana dos nossos dias, em que a polarização política asfixia os grandes debates nacionais, o ambientalismo e alguns de seus aspectos relevantes, como o aquecimento global e mudanças climáticas (essa uma das maiores aflições de Sirkis) se tornaram lamentavelmente bandeiras ideológicas, objeto inclusive de negacionismo por parte dos detratores da causa.

    O que era para ser uma preocupação planetária – e consequentemente de todo brasileiro – acabou sendo, por pura desonestidade, carimbado ideologicamente.

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    E por falar em bandeiras, nada mais conexo e convergente do que a corrupção sistêmica e a administração ambiental. As primeiras preocupações a serem colocadas de lado quando imperam o tráfico de influência e os esquemas escusos são justamente as de natureza ambiental.

    O combate implacável à corrupção encerra necessariamente a proteção ao meio ambiente, um dos bens mais caros – e vulneráveis – do patrimônio nacional.

    Por essas e outras que a morte de Alfredo Sirkis, por tudo que ele acreditava e representava, significou uma perda irreparável para a causa ambiental em nosso país.

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