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Jorge Pontes Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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A metamorfose da corrupção

O crime institucionalizado se reorganiza e volta a atacar em meio a uma pandemia e pouco tempo após o sexto aniversário da primeira fase da Lava Jato

Por Jorge Pontes
20 Maio 2020, 18h20
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  • O país assiste, boquiaberto, promovido pelo próprio governo federal, o inevitável retorno do Centrão a ministérios e cargos públicos com polpudos orçamentos, enquanto acompanha a Polícia Federal prendendo – Brasil afora – inúmeras quadrilhas que superfaturaram em milhões compras de equipamentos de enfrentamento à Covid-19.

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    Em suma, está sendo ensaiado um verdadeiro festim de recursos públicos, sobre os escombros e o sofrimento da sociedade brasileira.

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    Passado recentemente o sexto aniversário da deflagração da primeira fase da Operação Lava Jato, e em meio a uma trágica pandemia que já mata mil brasileiros por dia, o crime institucionalizado se reorganiza e volta a atacar com sua força total, contudo, assumindo uma nova forma, cooptando e angariando novos aliados.

    O cineasta brasileiro José Padilha batizou esse fenômeno da criminologia de “O Mecanismo”, na série do mesmo nome por ele dirigida, enquanto o Ministro Luís Roberto Barroso se refere a operadores e beneficiários do flagelo como “as forças do atraso”.

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    Nos estudos e observações que fizemos sobre essa macro-corrupção, podemos perceber que o conjunto de atores, de instituições e de relações que o integram dinamicamente não se consubstanciam propriamente em um “mecanismo”, pois tem vida própria, não é inanimado e não precisam de ação humana para ser entabulado, ou iniciado.

    Na realidade, estamos enfrentando uma entidade, um organismo vivo, uma força orgânica, que se retrai estrategicamente, que hiberna em determinados momentos, que conquista e captura novos parceiros, que sequestra instituições inteiras sempre pelo seu topo, se transmuta, e volta a atuar, utilizando-se de apoio de novas metaestruturas.

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    A nossa corrupção sistêmica havia sentido o golpe e já se retraíra por conta de seis anos do curso ininterrupto da Lava Jato, e também por uma pequena renovação ocorrida no Congresso Nacional e uma mudança de rumo acentuada no comando do Executivo federal, ambos operados pelo pleito de 2018.

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    Mas os zangões que representam os fornecedores de equipamentos, os lobistas, os intermediários e os velhos beiradeiros, melhores prepostos do nosso capitalismo de compadrio, estavam todos ali, à espreita. No outro lado do balcão, o tecido político degenerado e fisiológico, de um número considerável de parlamentares, prefeitos, governadores e políticos em geral, encontrava-se em passo de espera para entrar na crisálida e se metamorfosear.

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    E não como um mecanismo frio, mas como uma entidade gigantesca, viva e pulsante, o crime institucionalizado já esboça um retorno à contaminação de projetos e de orçamentos públicos de ministérios e de estatais. Já se sente no ar todo o assanhamento e o desassombro de sempre.

    O que mais nos impressiona é sua capacidade de mutação e sua habilidade de viajar e sobreviver no corpo de hospedeiros que se apresentam como vestais e salvadores da pátria. Eles voltam por meio dos “falsos novos” e promovem o retorno dos esquemas por intermédio da vulnerabilização e cooptação de quem deveria combatê-los, e dessa forma esmagam nossas esperanças.

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