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Por Coluna
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Rogue One: Uma História Star Wars

Se fosse um piloto de seriado, seria ótimo. Como filme, deixa muito a desejar

Por Isabela Boscov Atualizado em 12 jan 2017, 16h21 - Publicado em 14 dez 2016, 15h57

É impressão minha, ou Darth Vader encolheu bem uns 20 centímetros desde a última vez em que o vi? Não sei; pode ser só efeito do apequenamento geral do universo Star Wars promovido por Rogue One – um filme com jeito de piloto de seriado que é uma experiência decepcionante em si mesmo, e mais ainda na comparação com O Despertar da Força. Em tempo: os fãs de verdade que estavam presentes à sessão adoraram, porque a perspectiva deles, naturalmente, é outra. Eu não sou fã. Acho bacana, assisto com prazer (excluam-se dessa afirmação os Episódios I, II e III, argh) e saí muito feliz da exibição de O Despertar da Força; achei que misturava nostalgia e novidade na medida certa, e também que era cinema de verdade, com senso de escala e de espetáculo. Mas sou do tipo que fica com dor de cabeça tentando acompanhar os nomes dos planetas e dos personagens, e não entendo nada de universo expandido. Não me sinto na obrigação de gostar nem de entender os pormenores da timeline. O filme é legal? Estou nessa. Não se sustenta sozinho? Não conte comigo para dar uma força – sem trocadilho.

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Lendo sobre Rogue One nos últimos meses, achei que a estratégia fazia sentido: os episódios seguintes a O Despertar da Força continuarão sendo o carro-chefe da marca – o Star Wars canônico, digamos assim. Mas, nos anos de intervalo entre cada um deles, ramificações da história principal serão contadas em novos filmes (e quadrinhos, animações etc. ect., como já vinha sendo feito). A Disney, nova dona da Lucasfilm, tem obtido êxito narrativo e comercial sem precedentes no tratamento muito semelhante (em teoria) do universo Marvel. Com tanta cancha, pensei eu, inovações e sacadas inteligentes devem surgir também desses desdobramentos de Star Wars. Se Rogue One puder ser tomado como parâmetro, porém, o que vem pela frente não é enriquecimento – é barateamento. O departamento de marketing e o diretor, Gareth Edwards, conseguiram vender por aí a ideia de que Rogue One é um filme de guerra clássico, na linha de Os Canhões de Navarone. Pois o calibre está mais para o de espingarda de chumbinho.

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Problemas básicos: a apresentação dos personagens demooooora que é uma coisa. O que, consequentemente, faz com que a história seja empurrada ladeira acima durante toda a primeira metade. Se a história fosse assim essa coisa toda (não é), ou se os personagens fossem fascinantes, esses problemas se resolveriam sozinhos. Mas, na maioria, nem personagens nem os respectivos atores me fascinaram. Longe disso. Adorei Donnie Yen e Wen Jiang como os guardiões do templo Jedi. Alan Tudyk, que é ótimo em pessoa e em captura de desempenho, é uma delícia como o andróide imperial reprogramado K-2SO. Mads Mikkelsen é a competência de sempre como o pai da protagonista Jyn Erso e projetista da Estrela da Morte, embora fique muito pouco em cena. Forest Whitaker tem uma interpretação, hmmm, interessante como o líder extremista Saw Gerrera. Maneirista, mas interessante. E Peter Cushing dá um banho em todo mundo como Grand Moff Tarkin, embora esteja morto há 22 anos (isso é que é ser bom).

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Todos esses, porém, são coadjuvantes. O elenco principal, feito de atores que admiro, desta vez não correspondeu à expectativa: Felicity Jones, Diego Luna, Riz Ahmed e Ben Mendelsohn estão insossos como pão de forma. Felicity faz cara de contrariada, Diego faz cara de drama, Riz faz cara de atônito, Ben Mendelsohn faz cara de perverso e agita muito a capa branca do seu uniforme. Me fez lembrar de um comentário de Anthony Lane, o crítico da New Yorker, sobre O Fantasma da Ópera, lá nos idos de 2004 – Lane dizia que Gerard Butler ficava sacudindo o manto do Fantasma como alguém que estivesse tentando se livrar de um cheiro ruim. Quando uma referência como essa vem à mente, é sinal que o ator não conseguiu impressionar mesmo.

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O crucial, porém, é o trabalho de Gareth Edwards. Esse inglês de 41 anos tinha apenas dois longas para cinema no currículo: Monstros, de 2010, que eu recomendo vivamente (já dei no Garimpo da Semana, como você pode ler aqui), e o Godzilla de 2014, que eu não recomendo para ninguém. Minha sensação é que Edwards é um sujeito original e talentoso, mas educado demais ou confiante de menos; quando se vai de uma ficção científica de micro-orçamento como Monstros para um filme de estúdio, ou o sujeito bate o pé e finca os calcanhares, ou tiram dele toda a personalidade. Rogue One, da mesma maneira que Godzilla, é um filme que não parece ser de ninguém em particular. O grande Tony Gilroy, da trilogia Bourne e de Conduta de Risco, é um dos que assinam o roteiro – mas duvido que tenha sido ele a pôr lá uma fala chocha como “as rebeliões nascem da esperança”, e ainda mandado repeti-la várias vezes. Os planetas são vistosos, cheios de água ou de areia, e batalhas complicadas acontecem, mas em nenhum momento você sente aquela insignificância humana diante do espaço, ou aquela precariedade dos insurgentes frente ao poderio imperial, que Irvin Kershner e J.J. Abrams evocaram com tanta eficácia respectivamente em O Império Contra-Ataca e em O Despertar da Força.

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O que falta a Rogue One não é sabre de luz, nem mitologia Jedi – continuo achando instigante a ideia de investigar facetas da história de Star Wars que não tenham sido ainda reveladas. Faltam a Rogue One, isso sim, espanto, assombro, surpresa, emoção – ou, resumidamente, uma visão maior, com uma envergadura que vá além do que o filme possa representar para a narrativa Star Wars (e para o caixa da Lucasfilm). Falta, enfim, aquilo de que Star Wars é capaz nos seus melhores momentos – fazer você sentir que está sendo transportado, de turbilhão, para outro tempo e outra galáxia.


Trailer

ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS
(Rogue One: A Star Wars Story)
Estados Unidos, 2016
Direção: Gareth Edwards
Com Felicity Jones, Diego Luna, Ben Mendelsohn, Riz Ahmed, Alan Tudyk, Mads Mikkelsen, Forest Whitaker, Donnie Yen, Wen Jiang, Jimmy Smits, Alistair Petrie, Genevieve O’Reilly, a voz de James Earl Jones e uma excelente reconstituição digital de Peter Cushing
Distribuição: Disney

 

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