Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Quem é James Gunn, diretor que redimiu a franquia ‘O Esquadrão Suicida’

Com sua imaginação delirante, sem filtro nem censura, cineasta é a melhor coisa que poderia ter acontecido à DC em geral — e este blockbuster em particular

Por Isabela Boscov Atualizado em 6 ago 2021, 09h58 - Publicado em 6 ago 2021, 06h00

Avançando pelo corredor lotado de inimigos, Arlequina corta, decepa, mutila e degola. Mas, na sua imaginação, ela está em um momento princesa Disney: os jorros de sangue viram explosões de flores multicoloridas, passarinhos de desenho animado brincam entre os cadáveres e ela ri, deleitada, enquanto continua a esquartejar. É inesperado, absurdo e, por que não, épico; finalmente, Arlequina está livre para ser quem é — doce, alegre, entusiasmada e, claro, patologicamente desequilibrada, numa combinação que Margot Robbie já acertava quando roteiro e direção não ajudavam, mas que aqui, com o apoio deles, ela torna inebriante. As chaves da cadeia são cortesia de James Gunn, um sujeito de 55 anos e cabelos jovialmente espetados que, em um zigue-zague desses de dar torcicolo, está na sua enésima e mais impressionante encarnação profissional (numa das primeiras, foi vocalista de uma banda new wave que chegou a ter sucesso moderado). Vindo pela beirada, sem ninguém ver, em 2014 Gunn transformou um outro grupo de desajustados — os Guardiões da Galáxia — em um dos maiores sucessos da Marvel, e repetiu a dose em 2017. Quando alguns tuítes antigos com piadas de péssimo gosto sobre assédio sexual e pedofilia foram desencavados, ele caiu no buraco do cancelamento e achou que nunca mais arrumaria emprego. Perdoado pelas bolas foras nas redes sociais, não só foi recontratado pela Marvel, para a qual fará um terceiro Guardiões da Galáxia, como com O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, Estados Unidos, 2021), já em cartaz no país, Gunn acaba de dar à rival DC tudo o que ela precisava e mais um tanto: vigor, energia, escracho e uma criatividade delirante, sem filtro nem censura.

LIVRE - Robbie como Arlequina: mais vivacidade do que em Aves de Rapina e no primeiro Esquadrão somados -
LIVRE - Robbie como Arlequina: mais vivacidade do que em Aves de Rapina e no primeiro Esquadrão somados – (Jessica Miglio/Warner Bros)

Esquadrão Suicida: Ponto sem Volta

Gunn, em suma, é a melhor coisa que poderia ter acontecido ao estúdio — e particularmente ao bando de criminosos chantageados pela agente do governo Amanda Waller (Viola Davis) a participar de missões nas quais a volta é incerta (agora, incerta de fato: se há uma coisa que Gunn leva a sério aqui, com delicioso efeito cômico, é que alguns dos anti-heróis têm de bater as botas ou o título não se justifica). Não é que a Warner ou a DC reneguem publicamente o desastroso Esquadrão Suicida dirigido por David Ayer em 2016, mas fica implícito o recado: favor desconsiderá-lo, porque estamos recomeçando do zero.

Esquadrão Suicida Vol. 1

Continua após a publicidade

Com a rédea solta, o diretor e roteirista (único roteirista, o que faz toda a diferença) traz de volta alguns personagens indispensáveis, como Arlequina, o coronel Rick Flag (Joel Kinnaman) e a agente Waller, acrescenta ao rol vários outros, manda uns tantos deles pelos ares e então prossegue com os remanescentes, entre os quais se inclui, sem maiores explicações, um tubarão-branco de raciocínio lento dublado por Sylvester Stallone. O objetivo é a Ilha Corto Maltese — fãs de quadrinhos vão pescar a homenagem ao personagem criado pelo italiano Hugo Pratt nos anos 60 —, onde um golpe de Estado ameaça libertar sobre o mundo uma coisa que não deveria nem existir. Entram ainda no rolo guerrilheiros (Alice Braga interpreta a líder da Resistência), o legado perverso dos nazistas que se refugiaram na América Latina depois da II Guerra Mundial e uma doninha de ar depravado (Sean Gunn, irmão do diretor, faz o papel). No meio de tudo isso, Gunn ainda acha um jeito de usar o edipiano Bolinha (David Dastmalchian), que vê a cara da mãe gorduchinha em tudo e todos, para fazer uma homenagem muito bem bolada — o trocadilho é inevitável — ao Woody Allen de Contos de Nova York.

REVELAÇÃO - A portuguesa Daniela Melchior como Caça-Ratos II: no caos, notas de melancolia e saudade -
REVELAÇÃO - A portuguesa Daniela Melchior como Caça-Ratos II: no caos, notas de melancolia e saudade – (Jessica Miglio/Warner Bros)

Esquadrão Suicida: Vivendo no Limite

Com tantos malabares (ou bolinhas) no ar, Gunn às vezes mete os pés pelas mãos. Mas O Esquadrão Suicida é melhor por não ser perfeito: é no tumulto e na profusão que seu autor viceja, e na sua resistência inata ao burilado, lustrado e bem alinhado que ele acha a sua marca. Nos fundamentos, porém, Gunn tende ao conservador. Para que O Esquadrão Suicida não desabe sob o peso da alopração, ele o sustenta com um arco dramático erguido entre duas fundações sólidas — uma, o inglês Idris Elba, de notórios carisma e excelência, no papel do Sanguinário; a outra, a portuguesa de 24 anos Daniela Melchior. No papel da Caça-Ratos II, que tem a habilidade de atrair multidões de roedores para si, Daniela não encanta só o Sanguinário, a quem ela elege como figura paterna; ela encanta o próprio filme com suas notas de melancolia e de saudade — aquele sentimento para o qual só a língua portuguesa mesmo tem a palavra certa.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Esquadrão Suicida: Ponto sem Volta
Esquadrão Suicida: Ponto sem Volta
Esquadrão Suicida Vol. 1
Esquadrão Suicida Vol. 1
Esquadrão Suicida: Vivendo no Limite
Esquadrão Suicida: Vivendo no Limite

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.