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Por Coluna
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‘Meu Amigo Enzo’: entre lágrimas e latidos

Longa segue à risca a fórmula sentimental do 'filme de cachorrinho' — mas prova que é possível fazê-lo com dignidade e delicadeza autêntica

Por Isabela Boscov Atualizado em 12 ago 2019, 11h15 - Publicado em 9 ago 2019, 07h00

No segmento das histórias com protagonistas caninos, filmes como o húngaro Deus Branco (2014), o americano Cão Branco (1982) e a animação americana de alma japonesa Ilha dos Cachorros (2018), com suas emoções complexas e suas angústias civilizatórias, são a exceção: na regra, essas produções querem tão somente conectar a plateia com os sentimentos simples porém profundos que, desde tempos primordiais, alimentam a relação entre os seres humanos e seus companheiros de quatro patas. Frequentemente, aliás, o vasto gênero do “filme de cachorrinho” busca ir um pouco além, colocando-se no lugar dos cães para que, de alguma forma, eles possam declarar o que sentem por seus donos. No caso de Meu Amigo Enzo (The Art of Racing in the Rain, Estados Unidos, 2019), já em cartaz no país, o golden retriever que dá nome ao filme o faz de modo bastante literal: dado a ruminações filosóficas, Enzo pensa alto, com aquela linda voz sal da terra de Kevin Costner, e lamenta que sua anatomia não permita articular fonemas e dividir com Denny (Milo Ventimiglia) o que lhe vai pela cabeça — seja seu ciúme da jovem Eve (Amanda Seyfried), um osso que pelo jeito seu dono não quer saber de largar, seja sua sabedoria sobre a vida e toda essa espécie de coisa.

Escolhido pelo corredor automobilístico Denny entre os irmãos de ninhada por ser o filhote de “alma mais humana” e batizado em homenagem a Enzo Ferrari, o fundador da célebre escuderia de Fórmula 1, o retriever acha que também ele nasceu para as pistas e que, observando o dono, tira delas tantas lições quanto ele próprio. (Por causa de um documentário que viu na TV sobre cães da Mongólia, Enzo crê que está próxima a reencarnação em que ele vai nascer como gente de verdade.) Da mesma forma que Ayrton Senna, várias vezes citado no filme, Denny tem aptidão inata para trafegar no asfalto molhado: onde outros enxergam o imponderável e desaceleram, ele vê a chance de criar as próprias regras e condições, e avança. A habilidade será de grande valia a Denny e a seu cão, porque Meu Amigo Enzo, adaptado do best-seller A Arte de Correr na Chuva, lançado em 2008 pelo americano Garth Stein, não se cansa de fazer desabar tempestades sobre eles e sobre Eve e Zoë (Ryan Kiera Armstrong), a adorável filha do casal.

O elenco, integrado ainda pelos competentes Martin Donovan e Kathy Baker, é todo ele cativante — com destaque para Milo Ventimiglia, da série This Is Us, que refina aqui o proveito que é capaz de tirar de seu olhar melancólico e do jeito de herói comum. E, como está previsto na fórmula habitual do gênero, tanto as desventuras quanto a fofura são calculadas para extrair o máximo de lágrimas e de ternura da plateia. Mas, se o diretor inglês Simon Curtis, de delícias como a série Cranford e de dramas discretos como A Dama Dourada (2015) e Adeus, Christopher Robin (2017), não deixa passar nenhum dos lugares-­comuns desse tipo de filme, ele por outro lado os encena com dignidade e uma delicadeza autêntica. Desde a primeira viagem do filhote curioso, que vai olhando a paisagem pela janela do Mercedes antiguinho ao som da voz pungente de George Harrison, até a cena final, em que um menino de encantadores olhos cor de mel entra inesperadamente na vida de Denny (desta vez, ao som da inevitável mas sempre eficaz Have You Ever Seen the Rain?, do Creedence Clearwater Revival), Curtis mais obtém a cumplicidade do espectador do que coage seus sentimentos. Não deixa de ser mesmo uma arte.

Publicado em VEJA de 14 de agosto de 2019, edição nº 2647

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