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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".

Guga Chacra diz que tem mestrado e eu não! É a carteirada chupa-cabra! Será que foi no cursinho que ele aprendeu a dividir a direita entre multicultural e islamofóbica?

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h16 - Publicado em 15 ago 2014, 15h56

Veja o que o blogueiro do Estadão e comentarista da Globo News Gustavo Chacra respondeu a uma leitora deste blog que lhe enviara no Twitter meu artigo sobre as vigarices anti-Israel da ONU em Gaza:

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Difícil saber o que é mais vexaminoso: o pedido para compartilhar seus textos em detrimento dos meus, a afetação de superioridade por ter estado in loco, a carteirada chupa-cabra propriamente dita, ou tudo isto vir sem a menor refutação do artigo que recebeu. Em um só tuíte, Guga Chacra conseguiu reunir pelo menos quatro imposturas. Não posso negar o poder de síntese do “rapaz”. E olha que eu nem contei esse tratamento, digamos, pejorativamente etário.

Pela presença em Gaza e Israel, dou-lhe os parabéns. Imagino que tenha rendido boas fotos no Instagram. Eu não sei é com que autoridade Guga Chacra conta a história da Ucrânia, por exemplo, mas começo a desconfiar de que ele estava presente, séculos atrás, à invasão mongol. O militante de esquerda Michael Moore esteve em Cuba fazendo um “documentário” sobre a qualidade da saúde pública. Se ter estado in loco lhe dá credibilidade, a despeito de seu histórico de mentiras, canalhices e distorções, resta-me parabenizá-lo também. Daqui a pouco, estarei parabenizando jornalistas intelectualmente honestos e desonestos que presenciaram uma porção de eventos pelo mundo sem nunca ter acertado nada. Farei uma homenagem especial a Chacra por ter previsto o “bombardeio punitivo” dos EUA e seus aliados contra a Síria (o qual estou esperando até agora), dizendo até quais mísseis seriam utilizados (os Tomahawks) para “dar uma lição e deixar claro que o uso de armas químicas não passará impune”. Talvez assim eu vire um analista “isento” e “moderado”, desses que opinam na TV brasileira.

Numa época em que o turismo é confundido com o estudo cultural, não é de se estranhar que a reportagem internacional vire um selo ainda maior de superioridade intelectual na cabeça de correspondentes como Guga Chacra. Não foi só o mestrado. Parece que o jornalismo também lhe subiu à cabeça. Retratar lugares e entrevistar ao vivo cidadãos e autoridades, gerando alguma repercussão, não infundem em ninguém a capacidade de rastrear causas, antever efeitos e diagnosticar com exatidão fenômenos complexos, mas certamente consolida nas mentes Chacras deste mundo acadêmico a sensação de ser um “especialista” no assunto.

Temos de voltar mais de 130 anos para compreender essa mentalidade. Em carta a Mlle. Gerassímova de março de 1877, o escritor russo Dostoiévski recomendava que ela adiasse a entrada na Escola Normal de Medicina Para Mulheres para se ocupar primeiro de sua educação geral, sem a qual acabaria se juntando àqueles que só fazem mal à própria profissão: “É que simplesmente a maioria de nossos especialistas são pessoas de educação chocantemente precária. Em outras terras é bastante diferente: lá encontramos um Humboldt ou um Claude Bernard, pessoas com grandes ideias, grande cultura e conhecimento para além de seu campo de atuação. Mas, entre nós, mesmo pessoas de talento são incrivelmente pouco educadas.”

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Um pouco (mais) de Dostoiévski teria feito bem a Guga Chacra. Ou de Thomas Sowell, que praticamente o descreveu na obra-prima de 2010, Os intelectuais e a sociedade: “Os especialistas de qualquer área intelectual são exemplos clássicos de pessoas cujo alto conhecimento está concentrado dentro de uma margem estreita, a partir de um vasto espectro de preocupações humanas. Além do mais, a interação inevitável entre inúmeros fatores do mundo real significa que, mesmo dentro dessa margem estreita, fatores que chegam de fora da margem podem interferir nos resultados de uma forma significativa, transformando um especialista, cuja especialização não abrange esses outros fatores, num amador. Tal realidade é fundamental quando se trata de decisões que terão consequências de peso, mesmo dentro do que é normalmente considerado o campo de especialidade do especialista” (p. 47).

No início do século XX, Lima Barreto já satirizava a presunção dos “especialistas” brasileiros e o culto do diploma, quando, por exemplo, as vizinhas fofoqueiras, diante da biblioteca do major Quaresma, diziam: “Para quê tanto livro, se não é nem bacharel?” “Que, em contrapartida”, diria o filósofo Olavo de Carvalho, “faltem livros nas estantes dos bacharéis e doutores, onde abundam garrafas de uísque e fotos de viagens internacionais, é coisa que não ofende nem choca a alma nacional.” Não sou Chacra para dizer, sem conhecê-lo, o que ele já fez ou deixou de fazer na vida, mas é evidente que, na hipótese benevelonte de ter lido Dostoiévski, Sowell e Barreto, não os compreendeu como deveria. Entendo: Barreto não tinha diploma.

Além dele e do próprio Olavo, alguns dos maiores intelectuais brasileiros, como Machado de Assis, Capistrano de Abreu, Cruz e Souza, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Amadeu Amaral, Bruno Tolentino, Luís da Câmara Cascudo, Paulo Francis, Nelson Rodrigues e Otto Lara Resende, tampouco tinham (assim como Diogo Mainardi, com quem Chacra já debateu inclusive o Oriente Médio, tampouco tem); e alguns dos maiores filósofos brasileiros, como Tobias Barreto, Farias Brito, Mário Ferreira dos Santos, Vicente Ferreira da Silva, Vilém Flusser, Miguel Reale, Antonio Paim e Osvald de Andrade não tinham diploma de filosofia, mas fico imaginando quantos Chacras da época lhes disseram:

“Pelo menos, eu tenho mestrado no tema.”

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O cursinho do “especialista”
O mestrado de Guga Chacra foi em Relações Internacionais na Universidade de Columbia (“uma das dez melhores do mundo”, como ele vive repetindo), em Nova York, entre 2005 e 2007. Nas universidades americanas, de acordo com uma pesquisa de 2007 feita por dois acadêmicos esquerdistas, Neil Gross e Solon Simmons, as ciências sociais e humanas tinham 9 professores de esquerda para cada professor conservador; e, em campos como antropologia e sociologia, eles ganhavam de 30(!) a 1. No livro One-Party Classroom, em que denuncia com fartura de escândalos as salas de aula de um só partido, isto é, o adestramento ideológico no sistema nacional de ensino, o autor best seller David Horowitz dedica quase 30 páginas à Columbia:

“Em muitas salas de aula, perspectivas controversas de esquerda não são mais analisadas ​​e dissecadas, mas incutidas como doutrina recebida, enquanto outros pontos de vista são ignorados e, com efeito, suprimidos. As tarefas de leitura refletem a natureza unilateral de palestras ministradas por professores que se comportam como ativistas políticos em vez de estudiosos” (p. 63).

Um deles, citado em duas das seis páginas sobre o “palanque anti-Israel” tido por Departamento de Oriente Médio, é o amigo de longa data de Barack Obama e um dos seus primeiros arrecadadores de fundos de campanha, Rashid Khalidi, o professor ativista palestino-americano com quem Chacra cursou três matérias e de quem recebeu orientação direta em três papers, conforme ele mesmo escreveu ao sair em defesa de Khalid diante das acusações de John McCain de que o sujeito tinha ligações com o terrorismo. (Não sei se foi exatamente uma defesa, já que Chacra acabou dizendo que ele tinha mesmo relações com membros da OLP, então considerada uma organização terrorista pelos EUA, mas ok.) Diante de um ambiente universitário tão atraente, fico quase arrependido de não ter tentado uma vaguinha também. Com sorte, eu ainda teria assistido à palestra do ditador do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Os expedientes de esquerda
Ignoro se Guga Chacra já chegou “esquerdizado” ao seu mestrado, mas que saiu de lá repetindo alguns dos expedientes mais canalhas consagrados pela esquerda, não resta a menor dúvida, a começar pela própria carteirada chupa-cabra. Como escreveu Evan Sayet, denunciando também a ideologia em Columbia: “Esquerdistas gostam de se gabar de seu intelecto superior, muitas vezes apontando para o número de anos que passaram a vagar nos campus bucólicos de grandes universidades. Mas ficar mais tempo no sistema de ensino só faz uma pessoa ficar mais inteligente se o que está sendo ensinado é verdadeiro. Se o que está sendo ensinado são mentiras, então quanto mais tempo nos cursos, mais estúpida ela se torna, o que é, de fato, exatamente o que nós vemos. É por isso que Dennis Prager (parafraseando George Orwell, creio eu) termina uma conversa com um interlocutor particularmente estúpido, dizendo: ‘Senhor, isto é de uma burrice tão grande que você só pode ter frequentado uma faculdade.’”

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O grande frequentador Guga Chacra pode até se julgar representante da tal “direita multicultural-liberal”, mas chamar também de homofóbico quem discorda dele sobre homossexualidade ou casamento gay, como faz com o republicano Rick Santorum e toda a ala conservadora do Tea Party, é coisa de esquerdista radical do naipe de Jean Wyllys. Sem citar e analisar uma só frase de Santorum, Chacra chega ao cúmulo de escrever no título de um texto que ele “é tão homofóbico quanto Ahmadinejad”(!), igualando-o ao ditador do país onde os gays são enforcados em praça pública. Para piorar, ainda o chama de islamofóbico, dando como prova disso, só no Facebook, a opinião do então pré-candidato a favor do perfilamento étnico de muçulmanos como uma das possíveis medidas de segurança nos aeroportos contra ataque terroristas, porque eles seriam os mais propensos a cometer esse tipo de crime, como o 11 de setembro fez acreditar. Santorum pode estar errado o quanto seja, estatística, estratégica ou religiosamente, e caberia a Chacra argumentar (o que inclui destrinchar analiticamente o seu comentário), mas xingá-lo como um sujeito que não distingue muçulmanos bonzinhos e malvados e odeia todos de antemão, e como se o perfilamento fosse o próprio paredón, é repetir e estimular o expediente teatral da patrulha histérica que impossibilita qualquer debate.

Nessa mesma linha de histeria, Chacra divide a direita entre a “multicultural-liberal” dele (uma dissimulada “left-lib” politicamente correta) e uma outra “jeca, provinciana, islamofóbica (anti-muçulmana), antissemita, ultrapassada, homofóbica”. Para chamar alguém só de impostor, eu – que não tenho uma direita chacriana para chamar de minha – costumo demonstrar, com aspas, fontes e análises, as imposturas do sujeito, como sabem os leitores deste blog (quiçá deste texto). Mas se você é contra a legalização das drogas e de imigrantes sem documentos, cuidado: o “rapaz” Chacra pode xingar você de todos aqueles nomes.

Antes dele, o “especialista” internacional da Globo News foi durante anos o militante do PT Emir Sader, já desmascarado aqui e aqui. Quem acha que a emissora fez uma boa troca talvez tenha se precipitado.

[* Veja a continuação: Comento o texto de Guga Chacra “Minha resposta ao Felipe Moura Brasil”]

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Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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