Eu havia anotado no Facebook na tarde de terça-feira:
Mas, enquanto eu tentava descansar da cobertura eleitoral, a oposição deu sinal de vida.
Para desgosto do PT e de suas linhas auxiliares PSOL e PCdoB, além de parte do PROS (e da Folha de S. Paulo, parece), a Câmara dos Deputados derrubou o decreto bolivariano da presidente Dilma Rousseff, destinado a criar “conselhos populares” em órgãos da administração pública. O Senado ainda tem de avaliar o projeto de decreto legislativo para que a determinação do Planalto seja suspensa, mas o golaço está marcado.
Aécio Neves apontou o perigo durante a campanha:
“Me preocupa inclusive a criação desses conselhos, propostos pelo governo federal às vésperas das eleições, que na verdade buscam substituir em parte a responsabilidade e o poder do Congresso Nacional. São conselhos indicados pelo governo para ocupar o papel daqueles que são eleitos pelos cidadãos.”
A finalidade do decreto é “consolidar a participação social como método de governo” e sua definição de “sociedade civil” abrange “o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações”, ou seja: os movimentos sociais controlados e financiados pelo PT. E quem seria a nobre alma dotada do poder de indicar os “integrantes da sociedade civil” para as instâncias de participação e definir a forma dessa participação? Ele mesmo: o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Ainda bem que o Congresso já o conhece.
Os três depoimentos abaixo foram certeiros.
Deputado Mendonça Filho (PE), líder do DEM e autor do projeto que susta o decreto:
[O projeto de Dilma] “Impõe, via decreto presidencial, um modelo de consulta à população que é definido pelo Poder Executivo. É uma forma autocrática, autoritária, passando por cima do Parlamento, do Congresso Nacional, da Casa do Povo, de estabelecer mecanismos de ouvir a sociedade.”
Deputado Antonio Imbassahy (BA), líder do PSDB, para quem o decreto inverte a lógica da democracia representativa:
“Com esse decreto, a presidente Dilma quer que a escolha dos representantes do povo seja feita pelo governo do PT.”
Deputado Rubens Bueno (PR), líder do PPS:
“A oposição brasileira não concorda com esse decreto baixado pelo Poder Executivo em que traz os conselhos populares para determinar ao Executivo o que deve fazer. É o aparelhamento formalmente falando do petismo brasileiro através dos conselhos populares dentro do Poder Executivo.”
Eu assisti à votação ao vivo na TV Câmara e comentei em tempo real no Twitter as declarações dos governistas.
Meus destaques:
E não poderia faltar a líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ):
“Estou vendo uma certa alegria no Plenário pela possibilidade de derrotar o decreto, como se isso fosse uma derrota retumbante do governo, mas, depois da vitória retumbante da presidente Dilma, isso é uma coisa menor.”
Eu entendo que, como boa comunista auxiliar, Jandira não saiba vencer nem perder com educação. Mas retumbante, na verdade, foi o heroico brado da oposição na Câmara, mostrando que a suposta vitória nas urnas não é passe livre para a ditadura dos companheiros.
Que o diga o líder do PSDB no Senado e candidato derrotado como vice de Aécio Neves, Aloysio Nunes, cujo discurso desta terça-feira na tribuna – este sim – representou os 50 milhões de eleitores que votaram pela mudança:
“Transformar as redes sociais em um esgoto fedorento para destruir adversários: foi isso que fizeram. Não diga a candidata Dilma que não sabia o que estava acontecendo. Todo mundo percebia as insinuações que fazia nos debates e os coros nos debates sociais, dizendo que o Aécio batia em mulheres, era drogado. Quem faz isso não tem autoridade moral para pedir diálogo. Comigo, não. Estende uma mão e, com a outra, tem um punhal para ser cravado nas costas.”
Aloysio também rechaçou a possibilidade de plebiscito para reforma política, como defendeu Dilma em seu discurso de vitória:
“Volta a cantinela da reforma política atropelando o Congresso Nacional. Vi declaração sua, senhor presidente (Renan). Vamos discutir reforma política, sim, mas primeiro concluir as investigações dos escândalos da Petrobras para não dizerem que existe corrupção na política porque faltam recursos de financiamento público para as campanhas.”
O senador disse ainda, como informa o Globo, que a presidente “injuriou” a corporação ao dizer que no tempo do Fernando Henrique todos os diretores da PF eram militantes do PSDB.
“E Vossa Excelência foi ministro da Justiça do PMDB. Como é possível exercitar a mentira com tanta desfaçatez? Quero dizer que, da minha parte, da nossa parte, nós não daremos trégua. Vamos cobrar cada uma das promessas, inclusive as que ela fez na área da segurança pública e não foram cumpridas nenhuma delas, em relação inclusive à PF e à Polícia rodoviária Federal. Não cumpriu nada em relação ao fundo penitenciário, fronteiras, reaparelhamento da PF. Nada. Eu fui pessoalmente agredido por canalhas escondidos nas redes sociais a serviço do PT, de uma candidatura. Eu devo essa satisfação às minhas famílias, amigo e à nação. Não faço acordo. Não quero ser sócio de um governo falido, e nem cúmplice de um governo corrupto.”
Perfeito. É essa a oposição que nós queremos: atenta, combativa, intransigente e absolutamente consciente da perversidade dos que tentam destruí-la.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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