“No Brasil, as discussões geralmente já começam erradas” – Entrevista de Felipe Moura Brasil ao Instituto Liberal
Segue a entrevista que concedi a Wagner Vargas, do Instituto Liberal, publicada em 3 de maio, Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.
Instituto Liberal: Como você avalia a liberdade de imprensa no Brasil?
Felipe Moura Brasil: É a liberdade para bajular o governo – e para encobrir as causas de todos os desastres quando se torna inevitável divulgar os seus efeitos.
IL: Você tem acompanhado e analisado situações em que o atual governo tem se utilizado de instrumentos públicos propositalmente (PF, IPEA, IBGE). Em relação ao aparelhamento das verbas públicas direcionadas a veículos de comunicação, como tem sido a cobertura da imprensa sobre estes riscos de censura, ainda que seja velada como foi o caso de Rachel Sheherazade, no SBT?
FMB: A única cobertura na grande mídia sobre a censura à Rachel Sheherazade foi a que eu fiz no meu blog na VEJA, com vários artigos radiografando o caso em todos os seus níveis – do governo do PT aos testas-de-ferro do PSOL e do PCdoB, passando pela pressão interna e pela militância virtual. Os jornalistas brasileiros ou ainda acreditam que censura só ocorre com um decreto explícito do governo ou são militantes de esquerda satisfeitíssimos com a mordaça imposta a uma voz reacionária na TV aberta. Em geral, as duas coisas se juntam. Os perigos da “soft censorship” – a censura sutil feita pelo governo através de pressões econômicas – são tema de diversos estudos estrangeiros que podem ser encontrados até no Google. No entanto, a ideia de uma ditadura elaborada como a petista, construída para não parecer ser o que é, é forte demais para ser aceita e denunciada por aqueles que dependem ou das mesmas verbas ou da aprovação dos “miguxos” ideológicos para tomar posição sobre qualquer coisa.
IL: De que forma isso fere a liberdade de imprensa?
FMB: Não existe liberdade de imprensa se não há liberdade de opinião.
IL: Recentemente, a morte de um dançarino de um programa de TV gerou alguma comoção popular e fez o assassinato de um rapaz desconhecido ser amplamente noticiado na grande mídia. Você citou em seus textos sobre o assunto que, em boa parte destas coberturas, a abordagem foi inadequada e deu abertura para militantes profissionais defenderem pontos que, claramente, favorecerem traficantes como fim da UPP, a desmilitarização da polícia. Você pode descrever como isso tem acontecido?
FMB: No Brasil, as discussões geralmente já começam erradas, como foi no caso do DG. O traficante Pitbull, um dos pivôs do confronto no Pavão-Pavãozinho, está solto por quê? Porque lhe concederam regime semiaberto e ele fugiu. Os militantes e partidos de esquerda (como o PSOL) que exploram a morte de DG para pedir a desmilitarização da PM ou o fim das UPPs (que obviamente só beneficia os traficantes) são em boa parte os mesmos que lutam pelas proteções legais de bandidos como Pitbull, sem jamais dizer uma palavra contra a matança de policiais no país, inclusive nas UPPs, que já bateram o recorde de mortos e baleados neste ano. Eles fomentam a criminalidade, sobrecarregam a polícia e depois, quando morre alguém na favela, saem culpando a instituição policial inteira, antes mesmo das investigações. Isto não é coincidência. Isto é a promoção intencional do caos social para fins de poder político. Mas sempre há idiotas úteis para cair na conversa dessa canalhada.
IL: Além da Revolução Gramsciana e da forte presença ideológica em diversos setores da sociedade, existem organizações pouco afeitas à democracia, como é o caso do Foro do São Paulo. Além da defesa do “controle social” da mídia, há alguma outra interferência direta em relação à liberdade de imprensa? Qual?
FMB: Há agentes do Foro de São Paulo infiltrados em todos os grandes órgãos de mídia do Brasil. Eles boicotam e demonizam as vozes dissidentes e cuidam para que o noticiário no mínimo não lhes seja desfavorável. Estamos rompendo o bloqueio, mas ainda há muito a ser feito. O fato de que meu texto sobre o vexaminoso especial do “Esquenta” foi visto por 8 milhões de pessoas mostra que o público já está cansado de ouvir a mesma ladainha esquerdista.
IL: Aliás, a ideia de “Controle social” da mídia tem algum risco de ser retomada?
FMB: Com a liberação do dinheiro dos brasileiros – inclusive dos que não votaram no PT – para os “blogs sujos” e as ameaças de corte do dinheiro das estatais para emissoras como o SBT, sem contar a infiltração de militantes em todas as grandes redações, o controle petista da mídia já vai funcionando como pode, embora os líderes do partido queiram sempre mais um bocado. O ex-ministro Franklin Martins, que coordena a área de comunicação da campanha de Dilma Rousseff e é conselheiro do Instituto Lula, não vai desistir enquanto não tiver o controle total.
IL: Uma coisa é censura direta, outro ponto é o que o Reinaldo Azevedo disse recentemente sobre não se poder falar mais o que se deve falar e que o jornalismo de certa forma está se abstendo disso algumas vezes. Você passou por isso quando apresentou uma informação de interesse público (o post em que o dançarino do Esquenta lamenta a morte de um traficante) e recebeu comentários ofensivos, inclusive, de uma aluna de jornalismo tentando desclassificar seu texto. Este tipo de reação se relaciona com a liberdade de imprensa (ou com a ameaça a ela)?
FMB: A polícia do pensamento está diariamente em patrulha, atentando contra a liberdade de imprensa. Há militantes virtuais treinados em eventos como o “camping digital” do PT para fazer isto, assim como há idiotas úteis contaminados de ideologia esquerdista para contribuir voluntariamente. Depois das reações à primeira revelação que eu fiz sobre o DG, eu citei no meu blog aquela frase de George Orwell: “Jornalismo é publicar algo que alguém não quer que seja publicado. Todo o resto é publicidade.” Mas a verdade é que “alguém” é coisa do passado. Jornalismo hoje é publicar algo que bandos organizados e desorganizados de militantes cretinos tampouco querem que seja publicado. É preciso ter muita firmeza, constância, força moral e psicológica para não ceder à patrulha – e isto não é mesmo para qualquer zé mané.
IL: Não é paradoxal que pessoas bem-intencionadas defendam algo que pode lhes tolher a liberdade? Como o profissional de mídia deve lidar para elucidar a realidade neste caso em que o próprio público tem dificuldade de entender aquilo que o dançarino Carlinhos de Jesus frisou: que há diferenças entre criticar elementos podres de uma instituição e ser contra esta instituição?
FMB: “Não existe boa intenção sem amor à verdade”, já dizia Olavo de Carvalho, ressaltando a importância da busca pela verdade amada. Ou você é bem intencionado, portanto, ou você defende algo que pode tolher a sua liberdade. Quanto ao resto: tomar casos específicos, ainda que numerosos, para criminalizar todo um grupo social é um abominável preconceito que os supostos abominadores de preconceitos demonstram a cada vez que abrem a boca para vociferar contra a PM. São seguidores conscientes ou inconscientes daquela velha máxima atribuída a Lênin: “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.”
IL: O que os veículos de imprensa podem fazer para impedir o cerceamento de liberdades?
FMB: O ideal seria depender menos de verbas públicas e… Passar o trator sem piedade.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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Veja também o artigo anterior: A vantagem de ser “reaça” no país do “Esquenta” – e o que está por trás dos casos DG e Victor Hugo Deppman