Foi há 84 anos, ou melhor, há 25 anos que Titanic estreou nos cinemas e se tornou um fenômeno cultural estrondoso. Ao acompanhar o romance entre um jovem pobre e uma moça rica, juntamente à tragédia do naufrágio da vida real, o filme alcançou prestígio entre a crítica e popularidade entre o público: ele bateu o feito de Ben-Hur (1959) ganhando 11 estatuetas no Oscar, e se tornou o primeiro filme da história a alcançar 1 bilhão de dólares em bilheteria – e, pouco depois, passou dos 2 bilhões (até hoje é o único romance e o longa mais antigo entre as produções que chegaram ao mesmo número). Seus protagonistas, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet se tornaram estrelas mundiais e seu roteirista e diretor, James Cameron, ganhou crédito na praça para impor o seu desejo de fazer uma superprodução com alienígenas azuis em outro planeta – sim, Avatar só saiu do papel graças ao sucesso de Titanic.
Em comemoração aos 25 anos do filme, que estreou em dezembro de 1997, Titanic volta aos cinemas nesta quinta-feira, 9, em cópias restauradas em 4K, e promete atrair toda uma geração que não teve a chance de vê-lo na tela grande. Também será a chance do filme atestar sua relevância e mostrar por que virou uma febre incontestável – mesmo sem super-heróis, cenas de carros velozes, entre outros artifícios que arrebanham multidões hoje aos cinemas.
Não obstante, a Hollywood dos anos 90 estava apinhada de superproduções com efeitos especiais inebriantes. Jurassic Park, Independence Day e a segunda trilogia Star Wars foram queridinhos dessa época – e nem todos com um roteiro digno de nota. A qualquer custo, causar emoções era a missão da narrativa. Estabelecido no meio com o sucesso de Exterminador do Futuro, James Cameron já havia provado que era um mestre em causar emoções – e também um perfeccionista e um crítico social afiado: combinação que se refletiria no sucesso de Titanic.
Antes de rodar o filme, Cameron visitou o navio naufragado doze vezes e, costumeiramente, se emocionava ao voltar à superfície. O diretor registrou detalhes da estrutura da embarcação e analisou a tragédia de perto. Apaixonado pela natureza, mas com um gosto extra pelo fundo do mar, ele conseguiu transmitir no roteiro o respeito à força do meio ambiente e a insignificância humana diante do desconhecido. Enquanto se dedicava à parte técnica com primor, Cameron não deixou de lado o fundo simples e poético da trama. Com uma clara e discrepante divisão de classes, o Titanic foi uma tragédia ainda maior para os mais pobres – impedidos de serem evacuados do navio enquanto os mais ricos ganhavam espaço de sobra nos botes salva-vidas. A crítica social acompanha o romance de Jack e Rose – e a consequente morte do rapaz (um spoiler que já perdeu a validade, convenhamos).
Recentemente, Cameron aceitou o desafio de encarar a maior (ou talvez única) crítica que paira sobre a produção: a morte de Jack era necessária? Afinal, ele caberia ao lado de Rose na porta flutuante que a salvou, não é mesmo? O diretor fez o teste e admitiu: sim, o pobre rapaz cabia ali. Mas sua morte não tinha a ver com dados da física: Jack conquistou corações e os quebrou em pedacinhos com sua partida. Uma cena que provavelmente causará lágrimas em espectadores mesmo daqui a 84 anos.