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Oliver Stone a VEJA: ‘Já fui criticado por ser entusiasta do Lula’

Cineasta americano lançou em Cannes o documentário sobre o presidente brasileiro em tom panfletário e criticou Jair Bolsonaro: 'a grande ameaça permanece'

Por Jennifer Queen, de Cannes
22 Maio 2024, 17h45
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  • O documentário sobre o atual presidente brasileiro, Lula, dirigido pelo cineasta americano Oliver Stone, estreou no Festival de Cannes na noite de domingo, 19 de maio, e provocou quatro minutos ininterruptos de aplauso — prática comum ao evento. Polêmico, o filme conta, brevemente, a história do mandatário, mas foca principalmente no intervalo entre 2016 e 2022, quando o líder foi preso, solto e reascendeu à presidência. Crente em Lula como político salvador do país, Stone — triplamente oscarizado — se uniu ao colega Rob Wilson, procurou por Lula, que conhecia há alguns anos, e montou os 90 minutos do longa, composto por entrevistas e filmagens de arquivo. Em conversa com VEJA, ele aprofunda sua visão sobre o presidente, os bastidores da produção, o comportamento do eleitorado brasileiro e os efeitos do lawfare, mecanismo de manipulação jurídica que teria sido utilizado contra o representante durante a Operação Lava Jato.

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    Antes da exibição do filme, o senhor pediu que o público tentasse não “detestar Lula tanto”. Por que julgou necessária a súplica? Porque ainda existe muita hostilidade contra ele. A grande ameaça de Jair Bolsonaro permanece: ele conquistou 49% dos votos na eleição e continua falando em um golpe de estado. A classe trabalhadora do Brasil está dividida, você tem pessoas pobres lutando contra Lula, mesmo ele tentando ajudá-los. 

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    A sua simpatia por ele é perceptível no filme. Eu certamente já fui criticado por ser muito entusiasta do Lula. Hoje, a primeira pergunta que me fizeram foi: você está enviesado? Eu não sou enviesado, mas a gente escolhe um ou outro lado. 

    Quando decidiu fazer este documentário? Quando fiz South of the Border em 2009, entrevistei alguns presidentes da América Latina que estavam caminhando para a esquerda. Foi quando o conheci. É uma grande história sair da prisão aos 73 anos, naquela posição. Tenho muita empatia por ele. O filme faz a gente se sentir bem porque é uma história do azarão. Lula é um indivíduo muito forte, tem um poder napoleônico de certo modo, que usa para o bem do país, não para guerra. Ele o usa para a paz.

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    O senhor já fez documentários sobre Hugo Chávez, Vladimir Putin e, agora, sobre o Lula. Como compara o presidente brasileiro em relação a esses dois outros personagens? O processo é o mesmo. Busco a verdade, tento achar o que cada coisa significa, o que está sendo dito e o que está sendo feito. Não sei se existe uma diferença. Talvez o fato de Lula ser um personagem mais caloroso e o fato de ter sido tão aberto no documentário. Isso é único. 

    Como era sua opinião sobre o Lula antes do documentário e como ficou depois? Algo mudou? Minha percepção foi aprofundada. Eu o conheci quando Chávez nos apresentou, na época de South of The Border. Gostei dele desde o início, mas não o conhecia ainda. Não sei se você sabe, mas, depois do segundo mandato, Lula tinha a maior taxa de aprovação de um presidente, 80%. Isso é incrível — normalmente, temos 50% ou menos para um chefe de estado.  

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    O fim do documentário, com cenas das últimas horas da apuração dos votos do segundo turno da eleição presidencial, em 2022, mostra bem a polarização do país. Como a avalia? Acredito que as pessoas mais ricas  fazem um ótimo trabalho em criar uma divisão e esse medo do socialismo. Foi isso que levou ao golpe de estado no Chile. Muitas pessoas foram mortas em nome do medo do comunismo, do socialismo e do “esquerdismo”. Depois de Lula conquistar 80% de aprovação ao fim do segundo mandato, é difícil acreditar que a população brasileira votaria em alguém como Bolsonaro, mas é a frustração da classe trabalhadora. Eles não acreditam que os líderes estão endereçando suas necessidades. A pessoas que deveriam lutar lado a lado acabam brigando entre si. Existe esse conceito, muito importante, de lei e ordem. Foi a estratégia de Nixon depois do Vietnã. Ele falava em lei e ordem, porque as pessoas estavam cansadas da guerra e do crime. Quando o presidente é Bolsonaro, esse cenário é empurrado: “Nós precisamos de mais armas para lidar com mais crimes”. E agora as pessoas adoram armas. 

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    Qual sua opinião sobre a intersecção entre o lawfare (manipulação da lei com fins parciais) e corrupção. No Brasil, testemunhamos em primeira mão não apenas a Lava Jato como toda a história de irregularidades no país. Acho que a corrupção está em todo lugar. Desde o início dos tempos, ela é um jeito de fazer negócio. Se as pessoas assumem uma posição muito puritana em relação a isso, fazem alarde e acredito que o tiro pode sair pela culatra. Não deveríamos gritar “corrupção” o tempo todo, porque corrupção é como se ascende ao poder. Já lawfare — e os americanos sabem usar isso muito bem — é um tipo de medida anti-guerra. É xadrez. É uma forma do establishment se livrar de quem não quer. O status quo consegue fazer isso porque tem a polícia, a mídia, as forças armadas e o sistema jurídico. Corrupção é o pretexto para eles fazerem o que querem fazer, como a desinformação é um pretexto para estabelecer mais censura. Se olharmos para a América, a CIA é a melhor do mundo em corrupção. Foram muitos líderes globais corrompidos: eles pagam os líderes e ganham dinheiro. É uma transação com dinheiro vivo.  

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    Com seus filmes e documentários o senhor almeja provocar mudanças políticas? Acredito que não. A estrutura política é muito poderosa. Eles se mantêm fieis às próprias armas, começam a criar novas e as espalham pelo mundo.

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