O presidente Bolsonaro “acredita” na importância dos métodos de alfabetização, mas não “acredita” na importância do assento no banco traseiro para proteger os bebês. Ou, pelo menos, não “acredita” no impacto potencial das multas para induzir comportamentos responsáveis. Os educadores brasileiros, em sua expressiva maioria, “não acreditam” que métodos de alfabetização sejam importantes.
As evidências sobre as vantagens do assento elevado no banco traseiro são robustas o suficiente para induzir instituições como a American Pediatric Association e sua congênere, na Inglaterra, a recomendar o seu uso obrigatório. O argumento se baseia na redução dos riscos de morte e lesões. Mas são muito menos robustas, em quantidade, qualidade e rigor científico, do que as evidências a respeito dos métodos de alfabetização.
A ciência só produz verdades provisórias – o princípio básico de uma “verdade científica” é que ela pode ser modificada – com evidências coletadas de maneira apropriada. O conjunto de evidências a respeito da importância de métodos de alfabetização é o mais robusto que existe – dentre todos os assuntos educacionais que já foram objeto de pesquisa.
Educadores e o presidente Bolsonaro concordam que, diante de resultados científicos, o indivíduo tem a escolha entre “acreditar” ou “não acreditar”. O presidente dispõe de caneta BIC para transformar suas crenças em decreto. Os educadores dispõem apenas de seu próprio cérebro. Isso não deveria bastar?
Resta o murmúrio de Galileu diante da fogueira: “eppur si muove” (“no entanto, ela se move”, em português).