Não há nenhum lanche parecido com o beirute em Beirute, capital do Líbano. Para começar, muitos desses sanduíches no Brasil trazem presunto como opção, mas a maioria dos libaneses é muçulmana e não come carne de porco. Também não há nada com ovo por lá.
A culinária que conhecemos como “árabe” aqui é quase toda de origem síria e libanesa, mas foi bastante reinventada. Um exemplo é a esfiha de frango, que foi feita com as sobras da coxinha.
Quanto ao beirute (beiruth em alguns restaurantes), só o que ele tem de libanês é o pão sírio. “Chamar esse pão assim é a morte para qualquer libanês”, diz o historiador Murilo Meihy, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor do recém-lançado livro Os Libaneses (Contexto). É quase como dizer a um brasileiro que a capital do seu país é Buenos Aires.
Síria e Líbano eram uma única província do Império Otomano quando os imigrantes libaneses aportaram no Brasil, no começo do século XX. Mas esses dois países possuem identidades muito diferentes. Seja lá como for, ao reiniciar a vida por aqui, seus habitantes passaram a ser conhecidos como “turcos” ou “árabes”. O pão que eles começaram a fazer foi chamado de “sírio“.
O sanduíche beirute nasceu em São Paulo. Em um dia dos anos 1950, a lanchonete dos irmãos Jorge e Fauze Farah ficou sem o pão tradicional para fazer o bauru, que levava tomate, queijo e rosbife. O jeito foi substituí-lo pelo pão sírio. Apesar da ascendência síria, os irmãos Farah batizaram a invenção com o nome da capital do Líbano.
Dá para confundir ainda mais? A maior rede de fast food de cozinha árabe do mundo é o Habib´s, que também vende esfihas de frango (que também não existem no Líbano). A franquia foi fundada pelo português Alberto Saraiva. É isso o que explica o pastel de Belém e os bolinhos de bacalhau no menu.
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