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‘Pare de engolir mitos’: uma cruzada contra dietas restritivas

Novo livro da nutricionista Sophie Deram derruba modismos e orientações pseudocientíficas que circulam entre consultórios e mídias sociais. Leia trecho

Por Sophie Deram*
Atualizado em 9 Maio 2024, 15h02 - Publicado em 7 Maio 2024, 07h00

“Coma de três em três horas.”
“Não beba nada durante a refeição.”
“Corte os carboidratos à noite.”
“Beba de 2 a 3 litros de água por dia.”
“Evite gordura.”
“Açúcar é veneno.”
“Não pule refeições.”
“Faça jejum intermitente.”
“Corte o glúten e a lactose.”

Você certamente já leu ou ouviu regras de nutrição como essas, se é que não chegou a segui-las em algum momento da vida, acreditando estar fazendo algo benéfico para a sua saúde. A internet e as redes sociais, a publicidade, as revistas, a televisão, os perfis de influenciadores digitais e até as orientações de muitos profissionais de saúde estão dominados por mensagens com alertas, restrições e ordens sobre o que as pessoas devem ou não comer para controlar o peso, ser mais saudáveis e viver mais.

A maior parte dessas orientações se baseia em pseudociência, desinformação e sensacionalismo. Aliás, se você observar bem, verá que essas regras mudam constantemente, o que já é um sinal de que devemos encará-las com um olhar crítico. Além de não ajudarem a melhorar a saúde, nos deixam cada vez mais confusos e ansiosos em relação à comida.

“Vivemos hoje um terrorismo nutricional. As pessoas não sabem mais o que comer.” Esse foi o título da primeira grande entrevista que dei, em maio de 2014. Ela deu início à minha cruzada para divulgar, nas redes sociais e nos livros que escrevi, uma Nutrição com Ciência e Consciência, longe das dietas restritivas, do nutricionismo e da disseminação de informações conflitantes sobre o assunto.

O nutricionismo é a visão excessivamente simplista ou reducionista da alimentação, que dá importância apenas a calorias e nutrientes, sem considerar o alimento como um todo e seu impacto social e cultural na saúde. Quer um exemplo? Quando, em vez de falar “comi carne e arroz”, alguém diz “comi proteína e carboidrato”. Já reparou nesse tipo de discurso?

Se formos investigar, por trás de alertas como “evite”, “não coma”, “fuja” de certos alimentos ou bebidas, quase sempre existe a intenção de vender alguma coisa: um produto, uma dieta restritiva ou um serviço, uma terapia ou consulta com um profissional de saúde.

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Quando vim morar no Brasil, há mais de vinte anos, fiquei surpresa ao descobrir novidades sobre alimentação. Por exemplo, reparei que muitos brasileiros acreditam que não se deve tomar líquidos durante a refeição. Fui pesquisar e o único estudo relevante que encontrei sobre o tema observou o contrário: mulheres que se hidratam enquanto fazem uma refeição comem menos. Ou seja, esse hábito não deveria fazer engordar, certo?

Outro mito que só escutei por aqui diz que não se deve misturar manga com leite. Mas por quê? Será que a manga brasileira é diferente das outras? Uma das explicações que recebi para essa crença popular é de que, na época da escravidão, esse mito foi propagado para impedir que os trabalhadores escravizados roubassem o leite das fazendas onde viviam.

Não há comprovação científica para esses e muitos outros mitos que acabaram se tornando “verdades” nutricionais não só no Brasil, mas no mundo inteiro, definindo nosso comportamento alimentar e nossa relação com a comida. Mesmo assim, muita gente continua achando que deve segui-los para emagrecer ou evitar doenças e problemas de saúde específicos, de colesterol alto e prisão de ventre a câncer e Alzheimer.

Pare de engolir mitos

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Sou pesquisadora e nutricionista e há trinta anos trabalho para desconstruir mitos em torno da nutrição e do comer saudável. No meu consultório e no Ambulatório do Programa de Tratamento de Transtornos Alimentares (Ambulim) do Hospital das Clínicas do IPq-FMUSP, as perguntas que ouço com mais frequência são sempre algo na linha “O que preciso parar de comer para emagrecer?” ou “O que eu tenho que comer?”.

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Conversando com esses pacientes, a maioria conta que já parou de consumir glúten e lactose, aboliu a carne, faz ou fez jejum intermitente, segue a dieta low carb, toma um ou mais suplementos sem justificativa, entre outras restrições e maus hábitos alimentares.

Meu propósito com este livro é derrubar mitos e trazer a público os dados científicos mais atuais sobre nutrição, saúde e longevidade. Ele é a leitura que eu gostaria de dar aos meus pacientes antes da primeira consulta. É impressionante como muitos chegam ao consultório com crenças equivocadas e ao mesmo tempo tão arraigadas que é preciso gastar um tempo enorme da sessão esclarecendo informações erradas ou mal interpretadas sobre saúde, nutrição, dieta, corpo, metabolismo e comportamento.

São coisas que não somente não fazem sentido como atrapalham a saúde física e mental das pessoas. Isso acontece com pacientes de todas as idades, inclusive crianças trazidas pelos pais. Lembro-me de ouvir da mãe de uma menina com obesidade que atendi no Ambulatório de Obesidade Infantil da FMUSP, onde fiz meu doutorado: “Doutora, me ajude a emagrecer essa criança. Já tiramos o arroz.”

Minha primeira recomendação foi que ela voltasse a dar feijão com arroz para a filha, pois não é isso que faz engordar! Precisamos educar a família inteira, e não colocar o foco somente na criança. É fundamental desvendar os mitos e parar de prestar atenção somente no peso e nos alimentos isolados. Vou falar aqui e repetir muitas vezes: não existem alimentos que por si sós fazem engordar ou emagrecer.

* Sophie Deram é nutricionista, pesquisadora da USP e autora de Pare de Engolir Mitos (Sextante)

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