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Pãodemia

Nunca se assou tantos pães e bolos caseiros como agora, no confinamento

Por Lucília Diniz
Atualizado em 4 jun 2020, 15h59 - Publicado em 4 jun 2020, 15h49
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  • À luz da pandemia, um dos maiores modismos da dieta deste século, o movimento por alimentos “gluten-free”, aparentemente deixou de fazer sentido. A súbita tolerância ao glúten, percebida no aumento do consumo de farináceos, é o argumento definitivo de como seguimos tendências alimentares sem pensar. Diante da incerteza em relação ao futuro, o pão – alimento presente em todas as culturas e que há séculos nutre corpo e alma dos povos – pode estar sendo reabilitado.

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    Lembro que há alguns anos participei de uma matéria da Folha de São Paulo em que o jornal buscou minha opinião sobre o melhor pão francês da capital paulista. A tarefa não foi fácil, uma operação foi montada para que, em pouco tempo, eu pudesse provar mais de 360 amostras das “padocas”, das mais famosas às mais escondidas. Lembro que fui feliz na maioria dos testes, já que abro mão de qualquer coisa por um bom pãozinho. Uma contradição em minha biografia? Jamais. A escolha é tanto consciente quanto genética. Meu pai, Valentim dos Santos Diniz, foi como muitos de seus patrícios dono de padaria e confeitaria.

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    A verdade é que nunca me assustei com os carboidratos vindos deste alimento. Para me permitir seu consumo sem culpas, eu compenso buscando o equilíbrio nas demais refeições do dia e na atividade física – inclusive agora, durante a pandemia. E como a vida em isolamento passou a ser a norma, é esperado buscamos conforto em tudo que é possível – inclusive na comida.

    Para aplacar esse apetite emocional por pães e bolos, muitos viraram padeiros amadores. O fenômeno que se vê nas redes sociais se reflete em dados de mercado. No meio de março já se registrava o aumento de 647% nas vendas de farinha e fermento. Fatos que farão este período passar para a história como uma verdadeira “pãodemia”.

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    Eis que, subitamente, cai a ficha: mas, e o glúten? Aparentemente, e em português claro, qualquer polêmica em relação a esse glúten hoje em dia não mais interessa. Uma constatação que choca, já que ainda ontem a questão parecia ser de vida ou morte na elaboração da lista do supermercado. E ainda é, mas apenas para 1% da população ocidental. Por aqui, estima-se que são celíacos apenas um a cada 600 brasileiros. E sua preocupação com algo tão específico não é frescura: com o tempo, as paredes do intestino vão inflamando, se atrofiando e perdem a capacidade de absorver nutrientes dos alimentos. Até remédios deixam de fazer efeito.

    Mas num mundo pré-pandemia e pró-consumismo, o apelo de nicho curiosamente fazia sentido a milhões de outras pessoas, e o glúten sozinho virou o vilão. Para suprir a nova demanda do consumidor, até a padaria da esquina passou a produzir opções isentas da proteína. Um levantamento da empresa de análise de mercado Mintel estima em US$ 9 bilhões o mercado de produtos sem glúten apenas nos Estados Unidos.

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    Assim como o glúten, a farinha branca sofre do mesmo “preconceito” que o marketing impõe aos carboidratos derivados do trigo. Uma hipocrisia, tendo em vista ser devorada de olhos fechados com manteiga, geleia, e até leite condensado pelos mais extremistas.

    Em tempos de infodemia, devemos questionar quem coloca o medo na comida. Vamos aguardar e ver este equívoco ser corrigido. Por enquanto, as padarias, consideradas serviço essencial desde o início, seguem abertas. Vá sem medo.

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