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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Os avanços dos tratamentos de saúde com canabidiol

A ciência está mostrando que o potencial medicinal da planta cannabis é positivo o bastante para modificar a resistência cultural em torno dela

Por Claudio Lottenberg
10 jan 2022, 18h35

A cannabis – planta popularmente conhecida por maconha – tem revelado, nas pesquisas científicas que a estudam há décadas, que, dos seus mais de cem componentes, um em particular contém propriedades medicinais de grande auxílio no tratamento de uma ampla gama de doenças: o CBD (ou canabidiol). De glaucoma a Alzheimer, de Parkinson a câncer e depressão, a planta vai mostrando que pode ser o alívio no sofrimento de milhões de pessoas.

Os dois principais componentes ativos da planta são o CBD e o THC (tetrahidrocanabinol, que contém propriedades psicoativas), e foram descobertos nos anos 1960 pelo químico Raphael Mechoulam, abrindo o campo para que se compreendesse melhor essa planta. Desde então, a lista de males para os quais a cannabis pode ser uma alternativa de tratamento se expandiu: de acordo com a Health Canada (agência regulatória canadense), já são quase 40 as doenças para as quais o CBD seria uma opção efetiva de tratamento.

O mercado para produtos que fazem uso do CBD acompanha essa evolução. Atualmente, tal mercado movimenta bilhões de dólares no mundo todo. Dados da consultoria BDS Analytics mostram que, em 2020, as vendas globais de produtos relacionados à cannabis totalizaram US$ 21,3 bilhões – um aumento de 48% em relação a 2019 –, e as projeções são de que, até 2026, cheguem a movimentar cerca de US$ 55 bilhões.

São cifras expressivas, principalmente considerando-se que se trata de uma planta à qual estão relacionados mitos, preconceitos e estigmas culturais. No Brasil, por exemplo, ainda são poucos os medicamentos à base de maconha já aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A regulamentação e permissão pela agência de venda em farmácias veio em 2019. Só em junho do ano passado, porém, a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou a PL 399, que regula cultivo e produção medicinal e industrial de cannabis – projeto de lei que data de 2015.

Já são dez os registros na Anvisa de produtos à base de cannabis para alívio de dores crônicas e tratamento de epilepsia e esclerose múltipla. Há ainda outros 14 pedidos de registro de medicamentos em análise.

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Uma pesquisa recente, da Universidade Augusta (Geórgia, EUA), apresentou sinais positivos para tratamento de tumores. O estudo, feito com camundongos, mostrou que o composto à base de canabidiol (aplicado na forma de um inalante) foi capaz de diminuir o tamanho de um glioblastoma cerebral agressivo – os animais passaram a produzir menos substâncias que favorecem o crescimento do tumor. Esse composto seria um valioso aliado, assim, no tratamento de pacientes com esse tipo de tumor, para o qual hoje só existe à disposição cirurgia seguida de quimioterapia e radioterapia.

Mas as restrições legais e culturais relacionadas ao uso recreativo da planta terão de ser superadas. O canabidiol, diferentemente do THC, não provoca alucinações; seu uso, no entanto, deve ser feito com supervisão e orientação médicas – trata-se de um fármaco, afinal.

Outro obstáculo a ser superado é o dos preços. Nas farmácias, alguns produtos chegam a custar mais de R$ 1.500. Importar também envolve custos restritivos. No Brasil, pacientes acabam recorrendo à criação de associações, que obtêm permissão para o plantio. Mas para que o CBD chegue até os pacientes, é preciso abertura, escala na produção, e o fim do estigma que liga a maconha ao contexto das drogas ilícitas. A ciência já mostrou que o potencial medicinal da planta é positivo o bastante para que essa resistência cultural seja revertida.

O uso medicinal da cannabis é uma oportunidade para que tanto a economia brasileira se abra a todo um campo farmacêutico, no qual ainda há muito a ser explorado, quanto para que milhões de pessoas com opções limitadas (e não raro ineficazes) sejam beneficiadas.

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