Por que Sergio Moro precisa suar muito mais a camisa que seus adversários?
Com menos estrutura e experiência, ex-juiz precisa superar obstáculos maiores que seus rivais para consolidar seu nome na corrida presidencial
Não é novidade para ninguém que, em política, quem se coloca na vitrine antes da hora corre o risco de virar saco de pancada. Quem já é presidente, como Jair Bolsonaro, pode se dar o luxo de só falar sobre eleição quando quiser, sem abrir mão da exposição que o cargo lhe confere. Veterano e ciente de que precisa desviar de muita pedra, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também conhece bem essa máxima. Em plena campanha, repete que só vai confirmar a candidatura em março. Discursa para a claque e joga em terreno seguro. Mas o jogo é diferente para quem quer ser terceira via. E, para Sergio Moro, o desafio é ainda maior.
O ex-ministro da Justiça aceitou entrar na corrida presidencial por um partido pequeno. É inexperiente em eleições e, diferentemente de muitos dos seus rivais, não teve a vida revirada em corridas anteriores. Moro mal se colocou como candidato e ganham força especulações sobre uma possível troca de partido. A tese é que uma sigla como o recém-criado União Brasil lhe daria mais estrutura que o Podemos. Mas, a não ser que a conversa vingue – o que parece difícil neste momento – , o assédio do partido que nasce da fusão entre PSL e DEM só servirá para desgastar a campanha do ex-juiz.
Não é nada bom uma especulação como essa surgir ao mesmo tempo em que passam a estampar o noticiário reportagens sobre os rendimentos que teve no período em que trabalhou para a consultoria Alvarez&Marsal. O assunto é alimentado por investigações do Tribunal de Contas da União (TCU), o que serve de munição óbvia para adversários falarem até mesmo em CPI.
No esforço para romper a polarização entre Lula e Bolsonaro, Moro de fato tem a vantagem de largar com um desempenho melhor nas pesquisas. Mas Ciro Gomes (PDT) tem a bagagem e o recall de outras eleições. Tem também um acordo muito bem amarrado com a cúpula pedetista, mesmo que parte do partido flerte com o ex-presidente Lula. Já João Doria tem nas mãos o governo do maior Estado do País e realizações para mostrar, entre elas um papel importante no avanço da vacinação contra a Covid-19.
Moro não tem muito onde se apoiar a não ser em seu desempenho nas pesquisas. Tem uma bandeira anticorrupção que parece ter menos lugar na campanha deste ano. Por isso, corre um risco maior de assistir a uma debandada de apoiadores antes mesmo de a campanha começar oficialmente. E quem já está de olho nisso é o time de João Doria, que enxerga a possibilidade de atrair quadros insatisfeitos do Podemos para o PSDB. E, numa tacada só, desidratar Moro e fortalecer o tucano.
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