Bolsonaro pode não aparecer para depor? Ele sabe a resposta faz tempo
Presidente e sua equipe jurídica já esgotaram todas as discussões sobre as condições para que seja ouvido na condição de investigado
Não é de hoje que o presidente Jair Bolsonaro usa um depoimento para alimentar sua claque nas redes sociais. Foram meses desse jogo com o Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito sobre as denúncias do ex-ministro Sergio Moro, aquele da suposta interferência na Polícia Federal. Na época, Bolsonaro queria depor por escrito e não presencialmente. Mas um ponto das conversas ocorridas lá atrás agora volta à tona: sendo investigado, ele poderia simplesmente não aparecer para depor? E a resposta que ele recebeu faz tempo, de muita gente, é não.
Bolsonaro foi advertido naquela época que era grande o risco de o STF entender que o depoimento deveria ser presencial, por falar na condição de investigado. E que, embora tivesse o direito de ficar em silêncio para não se incriminar, ao menos boa parte dos ministros do Supremo entenderia que ele deveria comparecer ao depoimento. Uma vez sentado na cadeira, aí sim, ele poderia não dizer nada. Na época, três ministros do Supremo ouvidos por esta colunista disseram em reservado que concordavam com essa premissa.
Mas o plano de Bolsonaro não é jurídico. É político. É o mesmo jogo que protagonizou em novembro de 2020, quando a AGU enviou um ofício ao Supremo dizendo que o presidente abria mão de ser ouvido no inquérito sobre a interferência na PF. Não colou. Era uma “forçação de barra”, como resumiu na época um ministro do STF. O fato é que ninguém ali achava que iria colar. O plano era apenas empurrar as discussões sobre o depoimento e esperar o assunto esfriar. Deu certo e Bolsonaro só foi ser ouvido naquele inquérito – presencialmente, diga-se de passagem – dali a um ano.
Desta vez, a estratégia não é deixar a briga esfriar, mas sim esquentar o embate com o Supremo, que andava meio morno e é sempre uma boa receita para animar a torcida bolsonarista nas redes sociais. E aí basta jogar no colo da AGU, Bruno Bianco, a decisão de não aparecer no depoimento marcado na sexta-feira pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes. Que é exatamente o que fez o presidente.
Leia também: Bolsonaro diz que faltou a depoimento por orientação da AGU