Ao atirar no próprio pé, Bolsonaro deu a Tebet a grande vitrine do debate
Ataque do presidente à jornalista Vera Magalhães deu à senadora do MDB oportunidade de assumir papel de destaque no confronto na TV
Foram muitos os momentos do debate da Band em que o presidente Jair Bolsonaro subiu o tom. Foi para cima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de ex-presidiário, mentiroso e corrupto em incontáveis momentos do debate realizado nos estúdios da Band no domingo. Até aí, era tudo parte do script desenhado por sua campanha. Bolsonaro é “autêntico”, nas palavras de seus aliados, e estava ali para com o objetivo de expor a corrupção de governos petistas diante de Lula.
O que o time de Bolsonaro não esperava era que ele arremessaria toda a sua suposta “autenticidade” contra a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, um dos veículos organizadores do debate. Bolsonaro reagiu com destempero absoluto diante de uma pergunta sobre vacina que nem sequer o tinha como destinatário – caberia a ele comentar a resposta de Ciro Gomes. A pergunta continha a menção à desinformação difundida por Bolsonaro sobre a vacinação contra Covid-19.
A reação de Bolsonaro foi atacar a jornalista, apelando ao dizer que a jornalista tem “uma paixão” por ele. O primeiro efeito disso foi imediato. Simone Tebet (MDB) puxou a reação ao presidente. Depois, juntou-se a Soraya Thronicke (UB) para simbolizar uma união das mulheres para defender outra mulher de um ataque. A candidata do União Brasil ainda engatou que Bolsonaro é “tchutchuca” quando lida com homens, mas “tigrão” quando fala com mulheres.
E, de todos os candidatos, Bolsonaro é justamente o que mais precisa reduzir sua altíssima rejeição no eleitorado feminino. Mas, dali em diante, os efeitos negativos para Bolsonaro só se multiplicaram. A proliferação da cena em que o presidente ataca a jornalista se deu em sua arena preferida: as redes sociais. Nesta manhã, a hashtag #veramagalhaes ocupava o quarto lugar na lista de assuntos mais comentados do Twitter.
De quebra, uma pesquisa qualitativa realizada pelo Datafolha com 60 telespectadores logo após o debate apontou Simone Tebet como a vencedora do confronto. Talvez esse resultado não fosse possível se Bolsonaro não tivesse lhe dado o holofote. Tebet já tinha se saído bem em diversas intervenções centradas no presidente, como quando disse que nunca viu o presidente pegar sua moto para “entrar em um hospital e abraçar uma mãe”. Mas o ataque de Bolsonaro a Vera Magalhães impulsionou o debate sobre feminismo no debate.
No fim das contas, restou a Bolsonaro fazer o que faz com frequência toda vez que ataca as mulheres: minimizar o tamanho do problema. “Não me venham com essa historinha de atacar mulheres, de se vitimizar”, arrematou.
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