Governo japonês faz cair à metade custo previsto para o principal estádio das Olimpíadas de Tóquio 2020
Projeto monumental de Zaha Hadid teve orçamento reduzido, lição inspiradora para o Brasil
O altíssimo custo dos estádios nunca foi impeditivo para as obras da Copa do Mundo de 2014. Com orçamento inicial de 5,97 bilhões de reais para doze arenas, o Brasil gastou assombrosos 8,48 bilhões de reais (42% a mais que o previsto) até a conclusão das obras. A falta de estratégia sobre o que fazer com esses locais depois que o campeonato terminasse tampouco intimidou o andamento dos projetos, seguindo a máxima do “depois a gente vê o que faz”.
No Japão, uma história com enredo semelhante está tendo um desfecho bem diferente. O país, escolhido para sediar as Olimpíadas de 2020, está preparando uma série de obras estruturais e específicas paras os jogos. A mais emblemática delas é o estádio a ser construído em Tóquio com estrutura capaz de sediar os eventos de abertura e encerramento dos jogos. Devido à sua importância, o projeto havia sido entregue nas mãos da arquiteta iraquiana Zaha Radid, a única mulher a vencer o prêmio Pritzker (em 2004), equivalente ao Nobel da arquitetura.
Zaha integra a constelação de starchitects, arquitetos internacionais que ganharam projeção mundial com seus mega projetos. Para as Olimpíadas, a proposta de Zaha seguiu a mesma linha grandiloquente dos seus demais trabalhos. Em um país rico como Japão, seria possível supor que bancar um projeto megalomaníaco está longe de ser um problema. Mas o custo somado à dificuldade de justificar uma obra tão luxuosa fizeram o governo japonês mudar de ideia. A proposta de Zaha custaria pelo menos 2 bilhões de dólares para se tornar realidade.
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Para o arquiteto japonês Tadao Ando era inaceitável gastar tanto dinheiro com uma única obra. Ando foi vencedor do Pritzker em 1995 e chefia o comitê do governo que foi responsável por selecionar o projeto. “Do ponto de vista do cidadão comum, uma despesa dessas é impensável”, disse. Em julho, o governo desistiu oficialmente do projeto.
Passados alguns meses, Zaha parece ter compreendido os argumentos japoneses. Nesta semana, ela anunciou estar colhendo os frutos da parceria com a empresa de engenharia e arquitetura Nikken Sekkei, com a qual vem trabalhando há dois anos. A equipe conseguiu refazer o projeto e baixar o custo, agora estimado em 1,3 bilhão de dólares, pouco mais da metade do orçamento anterior.
Se a lição tivesse sido aplicada no Brasil, boa parte dos estádios da Copa do Mundo, a começar pelo Mané Garrincha, teriam sido reprojetados. Para as obras das Olimpíadas do Rio de Janeiro, a previsão de gastos é de 38,2 bilhões de reais (10 bilhões de dólares), dos quais 24,6 bilhões de reais (6 bilhões de dólares) devem ser investidos em infraestrutura. Quanto mais japonês o Brasil for na preparação dos jogos, melhor será para a população.
Por Mariana Barros
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