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Por André Sollitto e Ricardo Amorim
Novidades e reflexões sobre o mercado da cannabis legal, no Brasil e no mundo
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Os preços da ‘Cannabis’ medicinal no Brasil

Neste segundo post sobre o tema, o Cannabiz traz mais detalhes sobre as diferenças entre os produtos pesquisados e busca aprofundar o debate regulatório

Por Ricardo Amorim Atualizado em 5 mar 2020, 10h59 - Publicado em 26 fev 2020, 13h26
cannabis maconha
Favor não tocar na planta: sem autorização para o cultivo, mercado brasileiro sofre com distorção nos preços (Brand X Pictures/VEJA)

No post da semana passada, fiz uma comparação entre os preços de produtos de Cannabis medicinal disponíveis legalmente no Brasil. Com base nos dados colhidos diretamente nos sites de importadores e fabricantes selecionados, apontei que praticamente não há diferença de valores quando comparamos o produto nacional com o importado. A afirmação é de fato contra-intuitiva, o que gerou grande repercussão e alguma polêmica. O principal motivo das críticas diz respeito à natureza jurídica e econômica dos fornecedores dos canabinoides. Quem criticou o texto acredita que eu não fui enfático o suficiente ao informar que a única representante nacional na lista é uma ONG e não uma empresa.

No post, escrevi: “Fiz um levantamento dos preços praticados por algumas das principais importadoras de canabinoides que atuam no Brasil e também pela Abrace, associação de pacientes com sede em João Pessoa (PB), que cultiva suas plantas e produz localmente os derivados de Cannabis”. A informação estava lá, mas reconheço que a ressalva merecia mais destaque e contextualização, para evitar comparações tomadas ao pé da letra, ou melhor, ao pé dos números. Como também escrevi que “o levantamento abaixo não tem qualquer pretensão de ser uma análise definitiva do mercado brasileiro, mas sim de servir como uma referência inicial…”, retomo o assunto e faço novas provocações ao mercado e seus reguladores.

Quando me propus a pesquisar os preços, não sabia o que encontraria. Como muita gente, eu também fiquei surpreso com o resultado e, justamente por isso, o levei à chamada (título) do post. Mas devemos ir além do que a primeira avaliação nos informa e fazer a pergunta fundamental: por que isso acontece? Muitos acharam injusto comparar uma ONG com empresas multinacionais, que recebem investimentos milionários e podem praticar preços mais atraentes para conquistar mercado. Para uma ONG, o financiamento vem principalmente de seus associados, pacientes e doadores. Os recursos obtidos são, em regra, reinvestidos na manutenção e eventual expansão da própria entidade. Nessa perspectiva, em vez de avaliar preço a preço, devemos reconhecer que, apesar de seu limitado poderio econômico, a associação paraibana é extremamente eficiente e consegue oferecer produtos de eficácia comprovada a preços competitivos, inclusive quando comparados aos da indústria farmacêutica.

Outra forma de analisar a questão é incluir o Mevatyl na equação. Único medicamento à base de cannabis que já tem registro no Brasil, o produto é comercializado desde 2018 em embalagens com três ampolas de 10ml a um custo médio de R$ 2.700. Cada mililitro de Mevatyl contém 52mg de canabinoides (27mg de THC + 25mg de CBD). Na conta preço/concentração, o custo do miligrama de canabinoide do Mevatyl é de R$ 1,73, o que o torna o mais caro entre todos os produtos pesquisados. Voltamos à pergunta: por que isso acontece? E mais: será que os preços vão disparar a partir de março, quando muda a regulamentação e novos produtos poderão ser registrados no Brasil e vendidos em farmácia, como é o Mevatyl?

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Até aqui, essa é a principal diferença entre os importados: um é vendido na farmácia, os outros são trazidos do exterior mediante autorização da Anvisa. O que vai acontecer quando novos produtos passarem a ser vendidos nas farmácias: o preço deles vai subir ou o Mevatyl vai ficar mais barato? Outra dúvida que devemos ver sanada em breve será o preço cobrado, aí sim, por um produto 100% nacional e produzido por uma indústria e não por uma ONG. Aqui me refiro aos esperados medicamentos da Entourage Phytolab, única empresa autorizada a importar matéria-prima in natura e a produzir medicamentos com canabinoides no país. A expectativa é que esses produtos cheguem ao mercado ainda este ano.

Todos esses questionamentos não são nada triviais e estão intrinsecamente ligados à regulamentação que conseguimos aprovar até aqui. Como também já escrevi, as regras aprovadas pela Anvisa são extremamente favoráveis ao produto importado e à grande indústria (e ainda ao mercado ilegal, mas esse é tema de um próximo post). Não se pode cultivar legalmente no Brasil e, nas propostas que visam autorizar o cultivo, estão previstas exigências de segurança que praticamente inviabilizariam o investimento por conta dos altos custos e empenho de capital inicial. Ou seja, importar pode continuar sendo mais barato. Comprar do traficante, também.

Por fim (para efeito deste post, não do assunto), vale destacar ainda que nem todos os profissionais de saúde que estudam e prescrevem cannabis medicinal concordam com a comparação de preços baseada na concentração (R$ por miligrama de canabinoides totais no frasco), muito usada nos Estados Unidos. Para muitas condições, produtos com concentrações mais baixas são até mais eficazes do que os mais potentes. Exagerar na dose pode trazer efeitos indesejáveis e até agravar o quadro que se pretendia tratar, segundo já ouvi de diversos médicos e pacientes. Assim, frascos com valores mais acessíveis, como os vendidos pelas associações, ainda que tragam menores concentrações de canabinoides, podem fazer a diferença na vida de milhares de pessoas e garantir o acesso ao tratamento a uma parcela muito maior da população.

Faço questão de agradecer a todos os que se manifestaram sobre o assunto e os convido a manter o alto nível do debate que tentamos estimular por aqui. Aprendi muitas coisas nos últimos dias e considero que é assim que devemos caminhar. Não somos só nós, brasileiros, que estamos aprendendo a lidar novamente com essa planta, conhecida há milênios pela humanidade, mas escondida da sociedade por tantos anos. O mundo inteiro está diante do desafio de regulamentar seu uso e o princípios a serem perseguidos devem ser a liberdade, a inclusão e a saúde.

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