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Quem entende o nosso hino da Independência?

Tanque de guerra em alemão é “Raupenschlepperpanzerkampfwagen”. Palavra difícil na aparência, mas simples quando entendida, como os leitores verão

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 2 set 2018, 11h20 - Publicado em 2 set 2018, 11h20
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    Eis uma coluna especial, bem diferente de todas quantas temos publicado neste espaço. Primeiramente convidamos os leitores a ouvir o Hino da Independência do Brasil. Calma, mesmo cantado em Português, está legendado:

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    Agora, nos permitam, por favor, uma digressão, de objetivo exclusivamente didático. Ou talvez “didáctico”, que entretanto mudou para “didático”,  uma vez que, no encontro “ct” no interior da palavra, não é escrita a consoante “c” quando não é pronunciada, como determina o mais recente Acordo Ortográfico, de 1990, sancionado dezoito anos depois sabem por quem? 

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    O Acordo Ortográfico de 1990 foi sancionado pelo então presidente Lula, em 29 de setembro de 2008, na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio, diante dos acadêmicos, em sessão solene, ao lado do então governador Sérgio Cabral, por ocasião dos cem anos da morte de Machado de Assis.

    O maior escritor do Brasil nasceu e viveu toda a vida no Rio de Janeiro. Quando o Acordo Ortográfico foi promulgado, o escritor estava morto há exatos cem anos, pois morrera em 1908, ano em que nascia João Guimarães Rosa, aliás.

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    Dez anos depois do memorável evento da promulgação do Acordo Ortográfico, a mão oculta do tempo impôs ao destino dos envolvidos outras peripécias. O presidente e o governador estão presos, condenados por corrupção e lavagem de dinheiro. Quer dizer, houve Acordo Ortográfico, mas não houve Acordo Jurídico, nem com a Polícia Federal, nem com o Ministério Público, nem com juízes  e muito menos com a brigada da “Lava Jato”.

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    Bem, não é apenas uma digressão. “Didáctico” era escrito com “ct” por ter vindo do Grego “didákticos”.  Com “didática” deu-se o mesmo. No Grego, a arte de ensinar era “didaktiké”, que virou “didactique” no Francês e “didática” no Português.

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    Do Grego ao Francês, a viagem destas palavras demorou cerca de vinte séculos a ser percorrida para obter o registro escrito, e do Francês ao Português foram mais três séculos de viagem. Olhem só que abelheira cutucaram os executores do Acordo Ortográfico, olhem o enxame e calculem se a vara curta não deveria ter sido outra e manejada por mais gente.

    Quando estas palavras vieram para o Português, já estavam no Francês e foi dali que chegaram a Portugal e depois ao Brasil e às outras nações lusófonas espalhadas pelo mundo. Afinal, como disse Camões em belos versos sobre o mundo que o Português criou, “na quarta parte nova os campos ara/ e se mais mundo houvera lá chegara”, e isso gerou pelo menos três modalidades do Português: europeia, brasileira e africana.

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    A digressão final é esta. Tanque de guerra em alemão é “Raupenschlepperpanzerkampfwagen”. Palavra difícil na aparência, mas simples quando entendida, como os leitores verão a seguir.

    Mas e que tal “os grilhões que nos forjava da perfídia astuto ardil”? Fiquemos nas palavras: o que significam “grilhões”, “forjava”, “perfídia”, “astuto” e “ardil”? Isto é, se numa prova de ensino médio houver cinco perguntas destas, quantos alunos serão reprovados?

    Mas, calma, agora vamos à sintaxe: qual é o sujeito de “os grilhões que nos forjava da perfídia astuto ardil”? No caso de o sujeito ser “ardil”, qualificado como “astuto”, quem era o autor deste “ardil” imaginado por Evaristo da Veiga? E a “perfídia” – não era nome de tango ainda – era de quem? Olhem que ainda não nos ocupamos dos “grilhões” e nem do “forjava”…

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    Este é um dos construtos, a que chamam versos, do Hino da Independência do Brasil, da autoria do político e livreiro Evaristo da Veiga, com música de Dom Pedro I. Estava em vigor música de outra autoria, mas o imperador a detestava, apesar de o autor ser seu professor de música, e o Soberano compôs esta que hoje é tocada.

    Muitos são os brasileiros que acham o Alemão  muito difícil. Mas, comparado a estruturas de frases como as do Hino da Independência, o Alemão é mais fácil. Vejamos: “Raupen” é lagarta; “Schlepper” é trator. “Panzer” é o tipo de tanque armado; “Kampf” é luta; “Wagen”.

    Basta um dicionário, isto é, basta o léxico, para entender que o tal tanque de guerra, “panzer”, é um trator de uso bélico semelhante a uma lagarta, autopropulsionado e blindado.

    Como se vê, o “palavrão” no sentido de grande é menos obscuro do que um dos versos do Hino da Independência do Brasil. Voltaremos ao assunto.

    *Deonísio da Silva
    Diretor do Instituto da Palavra & Professor
    Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
    https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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