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Laranjas em cana vendem abacaxis a preço de banana

Não é de hoje que a agricultura e a pecuária fornecem metáforas e inusitadas comparações para entendermos nosso País

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 21 jan 2018, 11h20 - Publicado em 21 jan 2018, 11h20
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  • A sucessão presidencial embananou e está difícil saber quem poderá descascar abacaxis sem usar laranjas. E surgiu uma pergunta importante: candidato em cana pode concorrer?

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    Não é de hoje que a agricultura e a pecuária fornecem metáforas e inusitadas comparações para entendermos nosso País, onde, para a surpresa dos novos ocupantes da Terra de Vera Cruz, sobretudo portugueses, a banana era nativa e dava em todos os lugares, desde o quintal da casa até em espigões e em imensos banhadais.

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    Alguns casos com frutas tornaram-se célebres. Um dos primeiros foi o de Pedro de Rates Henequim, que viveu entre os séculos XVII e XVIII. Ele proclamou ter sido a banana, e não a maçã, a uva ou o figo, o fruto do pecado original no Éden. Sua nova teologia não pegou. Interpretações lendárias já tinham inventado a expressão pomo de Adão para identificar a maçã na garganta masculina como prova de que o primeiro homem, se comeu a fruta, não engoliu o caroço.

    O figo e a uva entraram por razões simples: sendo de pouca ou nenhuma leitura, muitos dos primeiros cristãos aprendiam mais com as pinturas do que com as letras, e os artistas cobriam a nudez de Adão e Eva, ora com folhas de parreira, ora com folhas de figueira.

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    Além do mais, travavam-se discussões interessantíssimas. Até mesmo os umbigos de Adão e Eva eram objeto de controvérsia, pois afinal tinham sido feitos de barro e não houvera gestação. Se não “p”, então não “q”, ensinava a lógica. Não tendo sido gerados, não deveriam ter umbigo. Que tremendos críticos de arte avant la lettre! À semelhança do sapateiro de Apeles, iam muito além das sandálias da pintura.

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    O abacaxi ─ frequentemente confundido com o ananás ─ já estava há muito tempo no palavreado nacional quando entrou a laranja, que de repente mudou de significado.

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    Sabemos muito mais acerca dos novos laranjas graças às descobertas da Polícia Federal e do Ministério Público, mais especificamente da operação Lava a Jato, expressão que deveria ter hífen, mas nosso bagunçado Acordo Ortográfico terceirizou também a língua portuguesa.

    Parentes de todos os graus, cunhados, mulheres, ex-mulheres, caseiros, faxineiras e pessoas jurídicas como gráficas, oficinas, borracharias, farmácias e outras empresas, muitas delas inexistentes, compuseram o novo e imenso laranjal.

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    Só mesmo depois de entrar em cana (esta até deu nome a um ciclo econômico, o da cana de açúcar) é que laranjas, tendo que descascar abacaxis, delataram os bananas que não queriam assumir.

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    Todos estes temas estão diariamente na mídia de vários formatos, do impresso ao eletrônico, passando, naturalmente, pelo áudio e pela imagem, pois o Brasil mais vê e ouve do que lê e pensa.

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    Há laranjas e bananas em profusão no Brasil atual. E poucos em cana, uma vez que a Justiça demora a descascar tantos abacaxis e identificar os nomes daqueles por quem dobram os laranjas.

    *Deonísio da Silva
    Diretor do Instituto da Palavra & Professor
    Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
    https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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