Adriana Ancelmo foi muito mais que dona de casa iludida pelo marido espertalhão, que só descobriu as patifarias do chefe da família quando o camburão chegou. A mulher de Sérgio Cabral também foi muito mais que uma advogada sem futuro subitamente surpreendida (e deslumbrada) com a promoção a primeira-dama do Rio e vitrine ambulante de joalheria. Adriana Ancelmo foi uma das mais ativas militantes da quadrilha que saqueou todos os cofres ao alcance do governador larápio.
Gilmar Mendes sabe disso, mas não se emenda. Nesta segunda-feira, o Juiz dos Juízes acionou sua usina de habeas corpus para devolver ao lar a quadrilheira engaiolada no mesmo presídio que abriga o maridão. Segundo o ministro da defesa de culpados de estimação, os filhos do casal fora-da-lei precisam dos cuidados da mãe. Nesse caso, deveria premiar com a liberdade as mais de 32 mil prisioneiras que só veem os órfãos de pais vivos em dia de visita à cadeia.
A presença de Adriana piora a vida da família. Obrigada a usar tornozeleira eletrônica, ela não pode ter por perto telefones e computadores ─ medida que impede os filhos até de distrair-se com videogame. Sem alternativa, os jovens inocentes precisam passar o tempo ouvindo a lengalenga da mãe que, como o pai, garante que nada fez de errado. É uma espécie de curso intensivo de cinismo & safadeza.
Gilmar Mendes insiste em afrontar o Brasil decente e obstruir o avanço da Lava Jato. Assim será até chegar o dia em que ministros que se julgam acima da lei perderem o direito ao superforo especialíssimo. Quem desfruta desse privilégio é presenteado com a condenação à perpétua impunidade.