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A diplomacia do cinismo promoveu a Venezuela a patroa do Brasil

PUBLICADO EM 3 DE AGOSTO DE 2009 Em janeiro de 2008, Hugo Chávez resolveu que deveria ser conferido às FARC o status de “grupo beligerante”. Onde parecia haver um bando de ex-guerrilheiros comunistas convertidos ao narcoterrorismo nos anos 80, explicou o presidente da Venezuela, havia um exército de patriotas que desde 1964  lutam pela libertação […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 17h10 - Publicado em 3 ago 2009, 18h12
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  • PUBLICADO EM 3 DE AGOSTO DE 2009

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    Em janeiro de 2008, Hugo Chávez resolveu que deveria ser conferido às FARC o status de “grupo beligerante”. Onde parecia haver um bando de ex-guerrilheiros comunistas convertidos ao narcoterrorismo nos anos 80, explicou o presidente da Venezuela, havia um exército de patriotas que desde 1964  lutam pela libertação do povo colombiano. E onde parecia haver um chefe de governo democraticamente eleito havia o tirano Alvaro Uribe. Chávez tem razão, endossara previamente o governo Lula ao promover o foragido Francisco Colazzos, o Padre Medina, a embaixador das FARC no Brasil.

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    Em março, quando Uribe ordenou o pedagógico ataque militar à estalagem narcoguerrilheira no Equador, a menos de dois quilômetros da fronteira, um Chávez até aqui de cólera jurou vingar “a invasão do território equatoriano e as vítimas do massacre”.  Ele tem razão, curvou-se o chanceler Celso Amorim, exigindo que a Colômbia pedisse desculpas ao Equador.

    Inconsolável com a morte de Raúl Reyes, número 2 na hierarquia da sigla, Chávez jurou homenagear-lhe a memória a bala.  “O grande guerreiro saberá que não lutou em vão”, declamou. A retórica tropeçou no traje: surpreendido no meio da noite pelo bombardeio aéreo, Reyes partiu de pijama. Guerrilheiros que se prezam tombam com a metralhadora na mão, a farda e o quepe agredidos pelas intempéries, botas castigadas por incontáveis combates. O comandante destemido morreu vestido de avô.

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    Ainda em março, um enfarte levou Manuel Marulanda, o Tirofijo, chefe supremo das FARC. O mais velho guerrilheiro do planeta ─ computado o tempo de serviço no ramo do narcotráfico ─ tinha  78 anos de idade e 44 de selva. As fotos de Tirofijo sobraçando o fuzil mostram um homem em estado de decomposição. O pijama do nº 2 e o rosto em ruínas do nº 1 deixaram até Chávez sem voz. Recuperou-a em junho, ao saber que Ingrid Betancourt fora libertada. E surpreendeu a platéia com a mudança do script.

    “Libertem os reféns, sem pedir nada em troca”, ordenou às FARC. “A guerra de guerrilha passou, a luta armada está fora de lugar”. Telefonou  em seguida para o presidente da Colômbia, felicitou-o efusivamente pela operação vitoriosa e convidou-o a aparecer na Venezueala assim que pudesse.  “Uribe será recebido como um irmão”, animou-se. “Já nos dissemos coisas muito duras, mas essas coisas acontecem também entre irmãos”. O governo brasileiro achou o palavrório muito bonito.

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    O mistério da brusca conversão seria logo decifrado:  o material apreendido na hospedaria provou que Chávez protege. municia e patrocina os terroristas que Correa hospeda. O Itamaraty achou aquilo irrelevante. No mês passado, a catarata de evidências criminosas foi ampliada pela captura, num acampamento das FARC, de um carregamento de armas fabricadas na Suécia e vendidas à Venezuela nos anos 80. Como é que aqueles mísseis antitanques foram parar lá?

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    Sem respostas a oferecer, Chávez resolveu interpelar Uribe pelo acordo que permite aos Estados Unidos o uso de bases militares na Colômbia. O Itamaraty aderiu imediatamente à manobra. “Compreendo as preocupações da Venezuela”, recitou Amorim. Como se os americanos precisassem de bases na América do Sul para enquadrar militarmente o desafiante sem chances. “Vou pedir ao Obama que me explique melhor o que vai fazer”, viajou Lula outra vez.

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    “A Colômbia nunca foi um país agressor da comunidade internacional: ela é vítima da agressão do terrorismo interno”, lembrou Uribe. O agressor é Chávez, dispensou-se de avisar. Se não brincasse de antiimperialista fora do Brasil para esconder as alianças abjetas que faz em casa, é a Chávez que Lula deveria pedir explicações. Como vai a parceria com a Rússia? Por que o companheiro não para de se intrometer em assuntos internos de outras nações? Por que tantas mobilizações de tropas nas fronteiras? E essa história de fechar emissoras de rádio, explodir o prédio da TV e confiscar atribuições de governadores da oposição? Não pega mal exigir democracia em Honduras e agir como liberticida  na Venezuela?

    Lula prefere fingir que o problema é a Colômbia. Que o perigo é Obama. Continua ao lado das FARC e contra o governo legítimo. Continua subordinado ao primitivismo bolivariano.

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    “Não recebemos ordens dos Estados Unidos”, repetiu Celso Amorim. A diplomacia do cinismo operou um milagre e tanto. A Venezuela virou patroa do Brasil.

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