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‘Brasilianas’, por Roberto Pompeu de Toledo

Publicado na edição impressa de VEJA ROBERTO POMPEU DE TOLEDO Numa visita a Paris, o deposto presidente João Goulart é bombardeado por perguntas de exilados. “Presidente, quais as relações do general X com o capital financeiro nacional e internacional?” “O general X?”, começa Jango. “Conheço muito. Brinquei com ele quando moleque. Ligado ao imperialismo? Qual […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h18 - Publicado em 9 mar 2014, 12h17

Publicado na edição impressa de VEJA

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

Numa visita a Paris, o deposto presidente João Goulart é bombardeado por perguntas de exilados. “Presidente, quais as relações do general X com o capital financeiro nacional e internacional?” “O general X?”, começa Jango. “Conheço muito. Brinquei com ele quando moleque. Ligado ao imperialismo? Qual nada! Está querendo é enfiar dinheiro no bolso.” Outro exilado ataca: “Mas o senhor sabe que o general Z é adepto da teoria da segurança nacional e da integração internacional”. Jango: “O general Z? Também conheço muito. É um milico meio quadrado. Obedece ordens. Já me mandou dizer por um amigo comum que não participara da quartelada, mas que agora é obrigado a enquadrar-se”. Conclui o cientista Luiz Hildebrando Pereira da Silva, um dos exilados presentes, num livro de memórias: “E assim, diante dos convidados boquiabertos, Jango foi reduzindo todas as brilhantes análises econômicas e sociológicas marxistas dos interlocutores a banalidades de relações pessoais, de interesses diretos ou subalternos, de ambições pessoais ou de grupos, de ânsia de poder e de conflitos diretos de interesse, quando não de meros acidentes políticos”. A reunião terminou com a troca da “seriedade acadêmica” e do “sectarismo partidário” por relatos de causos gauchescos e gargalhadas.

Poços de Caldas, 1935. O presidente Getúlio Vargas e família costumavam passar férias na estância mineira, arrastando consigo metade da República. Numa certa manhã, dois aviões militares irrompem nos céus da cidade. Voam baixo, sobem, voltam em parafuso. Passam rente ao Grande Hotel e quase lhe arrancam as telhas. O inesperado espetáculo é acompanhado com apreensão. A que se devia? Nos círculos íntimos, logo se soube que os aviões tinham vindo do Rio para trazer o cabeleireiro e a criada de quarto da primeira-dama, dona Darcy. A própria dona Darcy admitiu a verdade a uma amiga. “Quando a senhora deixar o governo, vai sentir falta desses confortos”, comentou a amiga. Dona Darcy respondeu: “Ah, quando isso acontecer já estarei velha. Nem precisarei mais de cabeleireiro”. Dona Darcy enxergava longe. Sabia que não estava nesse negócio de poder como simples turista. (Nota: um dos pilotos do voo maluco era o tenente Francisco de Assis Corrêa de Mello, apelidado, por isso mesmo, de “Melo Maluco”. Seria ministro da Aeronáutica sob Juscelino e de novo em seguida ao golpe de 1964.)

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Graciliano Ramos foi preso no arrastão que se seguiu à chamada Intentona Comunista de 1935. O período de dez meses entre a Casa de Detenção do Rio de Janeiro e a Colônia Correcional da Ilha Grande está relatado no monumental Memórias do Cárcere. Solto em janeiro de 1937, em grande parte por causa de campanha em que se destacaram o colega romancista José Lins do Rego e o editor José Olympio, meses depois ei-lo em visita ao Ministério da Educação, cujo titular era o mineiro Gustavo Capanema. Em carta à mulher, Heloísa, Graciliano escreveu: “Vi lá, num corredor, o nariz e o beiço caído de S. Exa. o sr. Gustavo Capanema. O Zé Lins acha excelente a nossa desorganização, que faz que um sujeito esteja na Colônia hoje e fale com o ministro amanhã; eu acho ruim a mencionada desorganização, que pode mandar para a Colônia o sujeito que falou com o ministro”.

Oswald de Andrade, cujo sexagésimo aniversário de morte ocorre neste ano, anda esquecido. Na escola que leva o seu nome, em São Paulo, professores e alunos não sabem sequer que se deve pronunciar “Oswáld”, à francesa (o nome foi inspirado num herói de romance francês), e não “Ôswald”, à inglesa. Oswald era um vanguardista, um agitador e um pândego. Teve tão diferentes engajamentos políticos quanto mulheres, entre as quais a escritora Patrícia Galvão, a Pagu. Um dia lhe perguntaram por que, numa certa fase, virara comunista. Explicou: “Por culpa da Patrícia Galvão. Ela fizera uma viagem a Buenos Aires. Voltou com panfletos, livros e uma grande novidade: ‘Oswald, tem o comunismo… Conheci um camarada chamado Prestes. Ele é comunista e nós também vamos ficar. Você fica’”. Ele respondeu: “Fico”. Depois, desficou.

Fontes: Luiz Hildebrando, Crônicas de Nossa Época; Paulo Duarte, Selva OsbcuraMemórias 3; Moacir Werneck de Castro, Mário de Andrade ─ Exílio no Rio; Oswald de Andrade, Os Dentes do Dragão.

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