O Governo Bolsonaro tem dado sinais muito claros de total desapreço para com o meio-ambiente e para qualquer política racional na área desde seus primeiros dias. Foram inúmeras as declarações desastrosas sobre a área e as ações para inibir os órgãos responsáveis pela fiscalização contra o desmatamento e a mineração na Amazônia, particularmente em terras indígenas. Para defender o laissez-faire ruralista na Amazônia, Bolsonaro atacou frontalmente o presidente Macron, chegando a ofender a primeira-dama francesa.
Ainda no ano passado a Alemanha e a Noruega se manifestaram contra a falta de proteção ao meio-ambiente e chegaram a interromper repasses milionários para o Fundo Amazônia. Mesmo os recursos já repassados continuam sem utilização. Apesar de todos os avisos e tentativas de negociação feitos por governantes e investidores estrangeiros nesse um ano e meio, nada mudou a disposição ecocida de Bolsonaro. O lema de seu governo foi dito com toda crueza, na famosa reunião ministerial, pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: vamos aproveitar que as atenções estão voltadas para a pandemia para fazer passar a boiada.
Diz-se que o castigo vem a cavalo. Neste primeiro semestre de 2020 o Brasil perdeu US$ 38 bilhões em investimentos externos. Além disso, investidores e gestores dos maiores fundos avisaram que vão retirar o Brasil das prioridades. Depois de avisar acerca dos riscos por 18 meses, os fundos agora informaram que não vão mais aceitar a conversa me engana que eu gosto com que o governo tem tratado a questão ambiental. O diálogo tem sido com o vice-presidente Hamilton Mourão: ele é cobrado a apresentar políticas e decisões transparentes para evitar a debandada de investidores que são pressionados em seus países de origem.
A verdade é que Mourão desempenha um papel figurativo e fica claro que ele não tem o respaldo do ministro Ricardo Salles. Mourão está perdendo a credibilidade para dialogar em nome do governo. Para ficar em um exemplo, o Vice-Presidente haviacriticado a política ambiental há um mês, mas nesta semana voltou atrás e elogiou o trabalho de Salles no ministério.
Enquanto isso, além dos estrangeiros, lideranças empresariais com visão mais abrangente tentam convencer o governo a adotar boas práticas na área ambiental para evitar a debandada de recursos. Uma decisão dessas irá atrasar ainda mais a retomada da nossa economia, já em recessão e sem perspectivas, além de prejudicar diretamente nossas exportações para os países ricos. A verdade, infelizmente, é que a moderação e os recuos de Bolsonaro nas últimas semanas não ocorreram na área ambiental.