Assine VEJA por R$2,00/semana
Alberto Carlos Almeida Por Alberto Carlos Almeida Opinião política baseada em fatos
Continua após publicidade

Corrupção, Bolsonaro e Sergio Moro

Casos de corrupção rondam Bolsonaro, que conta com a proteção de Sergio Moro

Por Alberto Carlos Almeida Atualizado em 31 jan 2020, 16h54 - Publicado em 31 jan 2020, 16h44
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Bolsonaro surfou nas eleições com o discurso de combate à corrupção. Enquanto o PT e Lula eram tratados com todo o rigor que a lei permite ou até com excessos, como ficou provado pela chamada Vaza Jato, Bolsonaro posou de candidato novo, sem qualquer mácula e compromisso total com o combate da corrupção. Prometeu abrir a Caixa Preta do BNDES e mostrar a mamata que ali havia. Prometeu que não faria negociações para aprovar suas medidas no Congresso e que ministro denunciado por corrupção não teria chance de continuar no governo.

    Publicidade

    Ainda em dezembro de 2018, antes portanto da posse, Sergio Moro, o juiz que prendeu e condenou o principal líder da esquerda no país, tirando-o da disputa eleitoral e abrindo caminho para Bolsonaro, agora já na condição de superministro, convidado que fora por Bolsonaro para o ministério da Justiça, fortalecido com a fusão da pasta da Segurança Pública, deu entrevista ao Fantástico, da Rede Globo e apresentou-se como o conselheiro do presidente para o caso de haver denúncias contra integrantes do governo.

    Publicidade

    Vale repetir, antes da posse de Bolsonaro em entrevista ao Fantástico Sergio Moro se apresentou como o conselheiro do presidente para casos de corrupção no governo.

    Por esse relato, Moro, de acordo com ele mesmo, seria o bedel do novo governo, o conselheiro de Bolsonaro para resolver casos de denúncias ou de ministros envolvidos em corrupção. Nas suas palavras “Se a denúncia for consistente, sim (será demitido). Eu defendo que, em caso de corrupção, se analise as provas e se faça um juízo de consistência, porque também existem acusações infundadas, pessoas têm direito de defesa. Mas é possível analisar desde logo a robustez das provas e emitir um juízo de valor. Não é preciso esperar as cortes de Justiça proferirem o julgamento.” Ou seja, se houvesse denúncia, não seria preciso esperar o veredito da Justiça, porque a palavra do juiz Sergio Moro seria o termômetro para a decisão de Bolsonaro.

    Publicidade

    Esse foi o discurso das eleições e de antes da posse. Depois de treze meses de governo, já podemos dizer que esse discurso ficou só na promessa. O primeiro grande problema foi a investigação que envolve Flavio Bolsonaro, o filho número “01”. Ex-deputado estadual no Rio de Janeiro por três mandatos e agora senador, Flavio é acusado de ter mantido um esquema de “rachadinha” no seu gabinete na Assembleia do Rio. Pelo que viu-se até agora, há grande chance de que isso seja verdade, até porque essa é uma prática infelizmente muito recorrente não só no Rio mas em assembleias legislativas e câmaras municipais de todo o Brasil. Mandatários contratam pessoas com salários superiores ao que seria razoável e cobram de volta parte deles. Em outros casos contratam funcionários fantasmas, os quais sequer aparecem para trabalhar e ficam com a maior parte do salário.

    Continua após a publicidade

    Voltando ao caso de Flavio Bolsonaro, essa investigação se arrastou pelo ano todo. É uma situação delicada, ele pode ser condenado e perder o mandato de senador por isso. Tivemos vários lances, mas o essencial é que Bolsonaro pai vem se empenhando muito para salvar o seu primogênito. Atacou o MP-Rio, atacou um juiz que é o responsável pelas decisões, atacou a mídia, tudo por conta do 01. Em agosto houve uma liminar do Supremo dada pelo presidente Dias Toffoli que suspendeu a investigação. Claro que logo houve a suspeita de interferência do presidente, que poderia ter pedido ao ministro Toffoli para dar um freio de arrumação no caso.

    Publicidade

    Mas houve um episódio importante, que quero mencionar. Imediatamente após a decisão de Toffoli que beneficiava o 01 o ministro da Justiça pediu uma audiência ao presidente do Supremo para manifestar seu ponto de vista contrário à liminar e pedir que deixasse continuar a investigação. Esse episódio provocou um imenso curto-circuito entre Bolsonaro e Moro. O presidente teria chamado o ministro para lhe dizer que, se não pudesse ajudar, que não atrapalhasse.

    Outro caso que se arrasta desde o primeiro mês de governo é o do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Também alvo de investigação por suposta fraude eleitoral, já foi inclusive denunciado e tornou-se réu, mas isso não foi o bastante para Bolsonaro tomar a atitude de afastar o ministro. Sergio Moro evita o assunto a todo custo. A principal denúncia que pesa contra o Ministro do Turismo é a de manipular recursos eleitorais, lançando candidatas laranjas e simular gastos inexistentes, desviando o dinheiro para a campanha do hoje ministro, que foi o deputado mais votado em Minas. Não vou entrar no mérito dessas acusações, defendo a investigação e que a justiça que decida. Mas é interessante porque o juiz Sergio Moro, diante de acusações assim, mandava prender preventivamente, às vezes por vários meses, mesmo sem ter julgado ou mesmo concluído as investigações. Já o ministro Sergio Moro foge desse assunto. Logo ele, que seria o conselheiro do presidente para demitir ou não o colega, evita qualquer opinião e tergiversa quando perguntado. E o ministro do turismo segue firme e forte no cargo porque, evidentemente, tem a proteção de Bolsonaro e o beneplácito de Sergio Moro.

    Publicidade

    Sem entrar no mérito de todas estas denúncias, a verdade é que o governo enfrenta acusações como qualquer outro governo sofre, isso faz parte da democracia, a oposição fiscaliza, a mídia fiscaliza, as instituições fiscalizam. A grande novidade é que Bolsonaro reage exatamente da mesma maneira que quase todos os governos. Ou seja, não mudou nada. Vejamos o caso do BNDES onde Bolsonaro garantia que abriria a Caixa Preta e que iria revelar todos os empréstimos que foram feitos, a quem foram feitos, assim como os juros, prazos, tudo! O que resultou disso? Hoje sabemos que foi contratada uma empresa americana de advocacia a um custo superior a R$ 70 milhões, dos quais já pagaram R$ 48 milhões e o relatório dessa auditoria diz claramente que nada de ilegal foi encontrado. Há até uma brincadeira da revista Piauí dizendo que agora vão contratar uma auditoria de R$ 480 milhões para investigar essa auditoria de R$ 48 milhões. Ou seja, uma das grandes promessas de Bolsonaro virou uma grande piada.

    Continua após a publicidade

    Eu poderia lembrar aqui de inúmeros casos, mas quero falar de mais um, que é muito simbólico. O jornal Folha de S. Paulo publicou matérias mostrando que o Secretário de Comunicação, chefe da SECOM, da presidência, o homem que gerencia as verbas de publicidade, coisa de mais de 120 milhões no ano passado, tem uma empresa que é contratada por veículos de comunicação e por agências de publicidade que recebem dinheiro da SECOM. Em outras palavras, o secretário define quem vai receber o dinheiro da publicidade, paga as empresas e estas pagam a empresa do secretário por um contrato mantido com elas. É evidente que há aí um enorme conflito de interesses que precisa ser resolvido. O juiz Sergio Moro facilmente decretaria a prisão preventiva do cidadão em um caso assim. O ministro Sergio Moro não parece ter dado nenhum conselho ao presidente a respeito. Já Bolsonaro defendeu o secretario e decidiu que não há nada de estranho nessa situação.

    Publicidade

    Enfim, Bolsonaro mostra total dificuldade em demitir seus amigos, aqueles mais próximos. Estamos vendo isso com o Ministério da Educação. O ministro não é acusado de corrupção, mas de total incompetência e falta de condições de ser ministro em área tão sensível e importante. Depois de inúmeros problemas, onde acusou as universidades de plantarem maconha para os estudantes e disparates desse tipo, conseguiram bagunçar com o ENEM, exame que seleciona candidatos a cerca de 200 mil vagas nas universidades federais. A bagunça é tão grande que o Enem corre o risco de ficar desacreditado. Estamos falando de um exame nacional onde participam mais de quatro milhões de jovens de todo o país. E o ministério da Educação não consegue resolver os problemas ou mesmo explicar o que aconteceu. Um típico caso para demissão a bem do serviço público, mas o ministro é amigo de Bolsonaro e pelo jeito vai continuar, prejudicando a Educação.

    O que estamos vendo é que Bolsonaro não combate a corrupção. Nos primeiros meses do primeiro governo Dilma vários ministros foram demitidos por conta de denúncias de corrupção. No primeiro ano do Governo Bolsonaro nenhum ministro e mesmo funcionários de segundo escalão foram demitidos por corrupção. E tudo isso tendo Sergio Moro como protetor. Quem diria, o grande arauto do combate à corrupção hoje ignora inteiramente todas as denúncias que recaem sobre o governo do qual faz parte. Lamentável, deplorável, inaceitável. Infelizmente é o que temos para hoje.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.