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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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É exagerado o auê em torno do Facebook monitorar usuários

Por quê? Primeiro: já era sabido. Segundo: é o preço que se paga por estar nas redes. Terceiro: existem questões mais graves a serem debatidas

Por Filipe Vilicic 19 dez 2019, 16h56

É preciso discutir os limites que devem ser impostos às redes sociais – a exemplo da quantidade e tipos de dados privados coletados por sites e apps? Sim, evidentemente (e já levantei esse debate muitas vezes aqui neste espaço). Porém, a animosidade está tamanha com o Facebook que por vezes o público exagera nas reações. É o que ocorreu com uma notícia, que nem é tão notícia assim (pelo ponto de vista de “novidade”), desta semana.

A história da vez: o Facebook monitora cada um de seus usuários, mesmo com a função de geolocalização desativada, por razões de segurança, e com fins publicitários (no link, mais da história). Por que não há novidade? Antes de tudo, lá nos idos de 2015 este autor já destacava a problemática, em tom extremamente crítico, no livro O Clique de 1 Bilhão de Dólares, acerca da história da criação do Instagram. E não só isso. A prática voltou à tona, aí com exatamente as mesmas “revelações” (aspas propositais, evidentemente) desta semana, em dezembro do ano passado. Por exemplo, em reportagem do site Gizmodo (clique no link para conferir).

Logo, antes de tudo, não há surpresa no que foi exposto nesta semana. Mesmo que, sim, valha sempre resgatar o assunto, por sua importância.

Agora, o que mais incomoda é o espanto demonstrado por parte dos usuários. Por quê? Já quando se baixa o aplicativo do Facebook no celular, é perguntado se a pessoa quer deixar ativado, ou não, o serviço de geolocalização, enquanto usa a rede (eu, por exemplo, optei por “não”). Contudo, a maioria nem lê o que está escrito e logo clica no “sim”, para começar a usufruir logo do negócio.

Para quem clicou “sim”, o que ocorre na sequência? Concorda-se, explicitamente, que o Facebook usará os dados do perfil para fornecer recursos variados que se apoiam no GPS. Exemplos: permitir que se publique conteúdo marcado com a localização; possibilitar anúncios ainda mais personalizados, relacionados a onde a pessoa está, ou locais que frequenta; etc. Não gosta de se expor assim para uma empresa estadunidense? Só desativar a funcionalidade, a qualquer momento.

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E se você disser “não”? Pois o pessoal de Zuckerberg continua a te rastrear. Não será mais com um endereço tão preciso (fulano está na rua X, entrando no restaurante Y), mas com algo aproximado (fulano está mais ou menos no bairro W, da cidade Z). Sabe o motivo do Facebook fazer isso? Leis de diversos países, a exemplo do que se estipula no Marco Civil da Internet no Brasil, exigem, direta ou indiretamente. Por aqui, por exemplo, o Facebook é obrigado a armazenar informações ligadas ao IP do aparelho utilizado por navegar por ele. Um desses dados: a localização aproximada do dispositivo, por GPS.

Sabe qual é o maior estorvo da enfadonha reclamação em relação às redes sociais? A falta de atenção aos problemas mais graves. Por falta de acesso, ou vontade, usuários de sites e apps não têm noção de por onde navegam.

Acha mesmo que entrar no Facebook ou no Instagram sai de graça? Nada disso. Ao acessar, dá-se algo em troca: seus dados, por vezes informações privadas, quando não íntimas. E as gigantes da indústria digital, de Amazon a Google, elaboram formas criativas de lucrar (muito!) com isso. Esse é o jogo. Não gostou? Saia do Facebook.

Entretanto, há enormes poréns. É fundamental, sim, impor limites à atuação dessas chamadas big techs (recorro ao jargão em inglês por adorarem tanto jargões em inglês nesse meio). Nesta coluna, já levantei variadas questões em torno disso (como aqui e aqui).

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Em um resumo bem simplório, antes de tudo temos de compreender exatamente como os dados são utilizados – em tese, o mínimo que poderia fazer qualquer um que reclama do que for de Facebook, Twitter, YouTube. Para aí: exigir a imposição de limites ao que se coleta; ao mesmo tempo, entender quais informações devem, sim, ser compartilhadas, para a manutenção técnica e financeira desses sites e apps, que já se revelam elementos essenciais da vida do século XXI; e então, simultaneamente, exigir salvaguardas para o que essas companhias armazenam em seus servidores.

Se, em vez de fuzuê, pararmos para refletir sobre esses pontos, deve se tornar mais saudável a relação que a sociedade constrói com Facebook, Twitter, YouTube, Google e o que mais surgir no mundão da internet. E talvez se cheguem a consensos importantes – como a compressão se é preciso, ou não, quebrar monopólios nesse mercado; ou se esses serviços digitais devem ser vistos, pelo ponto de vista público e jurídico, como utilidades essenciais aos cidadãos (e fiscalizados como tais, da forma como é com petróleo, telecomunicações etc.); dentre tantos outros assuntos, seríssimos, que precisam ser debatidos.

Em suma: vamos atentar às questões urgentes, sem criar fumaça em torno de qualquer nova gritaria que surge… em posts acalorados compartilhados por meios desses mesmas redes sociais das quais tanto reclamam (mas não conseguem parar de usar).

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