Vem aí o primeiro hambúrguer feito em laboratório
Cientistas apresentam nesta segunda o primeiro exemplar de carne feito a partir de células-tronco de gado. Criador quer ajudar a garantir estoque de alimentos
Um laboratório no oeste de Londres vai fazer história culinária e científica nesta segunda-feira, quando seus pesquisadores vão cozinhar e servir o primeiro hambúrguer do mundo feito com carne cultivada em laboratório.
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O hambúrguer in-vitro, criado a partir de células-tronco bovinas, será frito em uma panela e provado por dois voluntários na presença de jornalistas. Para o criador do hambúrguer, o cientista holandês Mark Post, a carne de laboratório pode ser uma resposta à escassez global de alimentos e ajudar a combater a mudança climática, já que elimina a necessidade da criação em larga escala de gado – um dos maiores emissores de metano, gás que na atmosfera ajuda a produzir o efeito estufa.
O hambúrguer é o resultado de anos de pesquisa de Post, biólogo da Universidade de Maastricht. A carne foi feita por entrelaçamento de fios de cerca de 20 000 proteínas cultivadas a partir de células-tronco de gado. O tecido é produzido colocando as células em um anel, como uma rosca, em torno de um cubo de gel de nutrientes, explica Post.
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CÉLULAS-TRONCO
Também chamadas de células-mãe, as células-tronco podem se transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo humano e dar origens a outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue. Dada essa versatilidade, elas vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e órgãos de pessoas doentes.
CÉLULA-TRONCO EMBRIONÁRIA
Formada no blastocisto, aglomerado de células que forma o feto. Por ter o ‘objetivo’ de ajudar na criação e desenvolvimento de um novo organismo, pode se diferenciar em praticamente todos os tecidos do corpo
CÉLULA-TRONCO PLURIPOTENTE INDUZIDA
Célula adulta especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco embrionária. Pode se transformar em qualquer tecido do corpo. Elas são obtidas por meio da reprogramação genética de células adultas. Uma célula somática (não envolvida diretamente na reprodução), como a da pele, pode “voltar” a um estágio similar ao de célula-tronco embrionária pela adição de alguns genes.
“Nosso hambúrguer é feito a partir de células musculares retiradas de uma vaca” disse Post em um comunicado na sexta-feira passada. “Para termos sucesso tem que aparentar e ter gosto da coisa verdadeira”. O pesquisador afirmou ainda que a ideia é poupar o meio-ambiente e os animais.
Para preparar o hambúrguer, os cientistas misturaram a carne cultivada com outros ingredientes normalmente utilizados em hambúrgueres, tais como sal, ovos em pó e farinha de rosca. Suco de beterraba vermelha e açafrão foram adicionados para trazer as suas cores naturais.
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Críticas – A produção do hambúrguer de laboratório como uma resposta aos problemas alimentares de muitas nações não tem sido bem recebida por alguns críticos. A professora Tara Garnett, que estuda políticas alimentares na Universidade de Oxford, considera que a solução não é apenas produzir mais comida.
“Temos uma situação em que 1,4 bilhão de pessoas no mundo estão acima do peso ou obesas, e ao mesmo tempo 1 bilhão vão para a cama com fome”, declarou à rede britânica BBC. “As soluções passam pela mudança dos sistemas de abastecimento, acesso e preços. Não basta só mais comida, mas comida melhor para as pessoas que precisam”.
(Com agência Reuters)