Savana era paisagem dominante quando homem aprendeu a andar
Pesquisa sustenta teoria que 'espaços abertos' permitiram aos humanos caminhar sobre os pés
Há tempos cientistas se debruçam sobre uma questão: a substituição da paisagem africana há milhões de anos teria influenciado a evolução humana? Nossos antepassados desenvolveram a habilidade de se locomover sobre duas pernas para se adaptar à savana? Ao que tudo indica, sim. Cientistas da Universidade de Utah, nos EUA, descobriram que a gramínea, vegetação típica das savanas, prevaleceu na maior parte do leste africano – local em que ancestrais humanos e parentes primatas evoluíram durante os últimos seis milhões de anos.
Para chegar aos resultados, a equipe usou uma técnica que utiliza formas de carbono deixadas pelas plantas nos sedimentos de camadas profundas do solo africano para avaliar a antiga cobertura vegetal existente na pré-história. “Fomos capazes de quantificar quanta sombra existia no passado geológico”, afirma o geólogo Thure Cerling, autor do estudo publicado no periódico científico Nature. “O trabalho mostra que habitats abertos devem ter existido pelo período completo de seis milhões de anos em ambientes do leste africano onde alguns dos mais importantes fósseis humanos foram encontrados.”
“Onde quer que achemos ancestrais humanos, encontramos evidências de habitats abertos similares às savanas”, explica Cerling. Fósseis de ancestrais humanos foram encontrados tanto em ambientes abertos como arborizados na África Oriental. Até mesmo a dieta do Ardipithecus, que teria habitado regiões arborizadas há 4,3 milhões de anos, seria em partes baseada em gramínea – o que indica que ele se deslocava frequentemente para este tipo de paisagem.
Os resultados vão ao encontro da ‘teoria da savana’, proposta em 1925, segundo a qual a evolução humana e o caminhar ereto teriam relação com a substituição de florestas tropicais por savanas. Entretanto, para Craig Feibel, especialista em Geologia e Paleontologia da Universidade Rutgers (EUA), o trabalho levanta outras questões: por que um bípede mais ‘recente’, como o australopiteco, se desenvolveu em habitats florestais? Pesquisas tentam associar dados ecológicos com fósseis, no intuito de conhecer melhor a distribuição espacial e os hábitats de vida dos ancestrais humanos em diferentes paisagens.