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Saúde dos astronautas pode ser entrave para viagens tripuladas a Marte

O sonho de mandar o homem ao planeta vermelho segue cada vez mais vivo, mas estudos reforçam preocupação com impacto da falta de gravidade no corpo humano

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 dez 2022, 08h00

Desde que o cosmonauta soviético Yuri Gagarin se tornou o primeiro ser humano a viajar rumo ao espaço, a bordo da nave Vostok 1, em 12 de abril de 1961, mais de 600 pessoas, entre astronautas profissionais e os novos turistas espaciais, já deixaram a Terra em aventuras dessa natureza. É sempre fascinante imaginar como é a vida fora da órbita terrestre. Há atualmente dez moradores na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Eles se alimentam de comida desidratada por refrigeração e repousam em sacos de dormir amarrados na parede para não flutuarem. É certamente uma experiência única e divertida, mas que pode se tornar árdua e, sobretudo, nada saudável em missões mais longas.

Com o sonho de chegar a Marte no horizonte, uma viagem que duraria anos, as principais agências vêm pesquisando os efeitos da vida sem gravidade no corpo humano. E os resultados preocupam. Um estudo recentemente publicado pela revista Nature Communications Biology, feito com base em amostras de sangue de catorze astronautas da Nasa que voaram entre 1998 e 2001 em missões com duração média de doze dias, mostrou que viajantes espaciais apresentam maior risco de desenvolver uma mutação no DNA de células-tronco chamada hematopoiese clonal. A alteração está associada à predisposição para câncer e doenças cardíacas.

RISCO - A Terra vista do alto: exposição aos raios cósmicos aumenta o perigo -
RISCO – A Terra vista do alto: exposição aos raios cósmicos aumenta o perigo – (AP Photo/Nasa)

Segundo os autores do trabalho, da Faculdade de Medicina Icahn do Hospital Monte Sinai, em Nova York, o achado não é tão preocupante assim quanto parece, mas acrescenta mais um ponto de alerta visando os próximos passos da corrida espacial do século XXI. O eterno desejo de levar o homem a Marte esbarra em uma série de percalços, a começar pelo tempo necessário à expedição. A viagem de ida mais curta — quando as órbitas da Terra e do planeta vermelho se alinham a uma distância de 55 milhões de quilômetros, um fenômeno que só acontece a cada 26 meses — duraria cerca de sete meses. Um “bate e volta”, portanto, com a tecnologia atual, passaria de dois anos. O falastrão Elon Musk garante que uma nave de sua companhia SpaceX aterrissará por lá até 2028. Chineses, europeus e árabes também têm planos ambiciosos.

A Nasa, contudo, prefere a cautela em relação a prazos (até o retorno à Lua, antes previsto para 2024, foi adiado). Entre as razões, estão as dúvidas sobre o impacto no corpo. Há cinco décadas a agência mantém o Programa de Pesquisa Humana, criado para estudar o corpo dos astronautas tendo como objetivo mantê-los seguros e saudáveis. Em 2019 foram publicados os resultados do Twins Study, uma experiência feita com Scott Kelly, astronauta que passara 340 dias na ISS, e com seu irmão gêmeo idêntico, Mark, que permaneceu em terra firme. Ao voltar para a Terra, Scott apresentou sintomas de envelhecimento, como perda cognitiva, alterações genéticas e vasculares e problemas de resposta imunológica e de acuidade visual, enquanto nada mudou em seu irmão. Ainda que meses depois a maioria das funções do organismo do astronauta tenha retornado à normalidade, os pesquisadores alertaram sobre o fato de que a piora no quadro de Kelly se deu nos meses finais da missão, um indício de que talvez o corpo não consiga suportar uma aventura longa.

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ESTUDO GÊMEO - Scott Kelly: um ano em órbita e comparação com irmão -
ESTUDO GÊMEO - Scott Kelly: um ano em órbita e comparação com irmão – (2020 Images/Alamy/Fotoarena/.)

A Nasa agrupa os principais riscos no acrônimo Ridge, abreviação em inglês para radiação espacial, isolamento e confinamento, distância da Terra, campos de gravidade e ambientes fechados e hostis. O desafio maior diz respeito à exposição a raios cósmicos, que aumentam o risco de câncer e doenças degenerativas. O engenheiro mineiro Ivair Gontijo, que trabalha na agência desde 2006, participou da elaboração do astromóvel robotizado Curiosity, que estuda o planeta vermelho desde 2012. A VEJA, ele contou que durante a viagem a radiação acumulada foi duas vezes maior do que o que a Nasa recomenda que um astronauta receba a vida toda. “Isso significa que, para levar um homem a Marte, será preciso reforçar muito a proteção metálica. É um problema de engenharia de difícil resolução”, disse. Em março de 2023, os tripulantes da Expedição 68, operação conjunta entre russos e americanos, retornam da ISS após seis meses. Que voltem com saúde e as mais animadoras evidências de que o sonho de explorar os confins do cosmos é possível e que está realmente perto de ser alcançado.

Publicado em VEJA de 4 de janeiro de 2023, edição nº 2822

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