Personalidade ajuda fêmea de babuíno a ter parceiros estáveis
Pesquisa mostra que animais mais amigáveis têm menos stress e mais parceiros estáveis que os solitários
Os primatas são animais extremamente sociáveis. Pesquisas anteriores já mostraram que o número de laços sociais e as posições hierárquicas são extremamente importantes – inclusive entre os humanos – e podem levar a uma vida mais longa e saudável. Agora, uma nova pesquisa feita por cientistas de Universidade da Pensilvânia mostrou que não é só o nível hierárquico dos primatas que determina seu sucesso social, mas sua personalidade. O estudo foi publicado nesta segunda-feira na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Variation in personality and fitness in wild female baboons
Onde foi divulgada: revista PNAS
Quem fez: Robert M. Seyfarth, Joan B. Silk e Dorothy L. Cheney
Instituição: Universidade da Pensilvânia
Dados de amostragem: 45 fêmeas de babuíno que vivem na Reserva Moremi Game, em Botsuana
Resultado: Os pesquisadores dividiram os babuínos em três grupos, de acordo com sua personalidade: agradáveis, indiferentes e solitários. Os solitários apresentavam laços sociais mais fracos e parceiros sexuais menos estáveis – o que resultava em dificuldades reprodutivas e maiores níveis de stress.
Ao estudar fêmeas de babuínos, os cientistas traçaram três tipos de personalidade para os animais: agradáveis, indiferentes e solitários. Cada um dos tipos apresentava um grau diferente de sociabilidade e estabilidade de parceiros, o que estaria diretamente ligado à saúde do animal e a seu sucesso reprodutivo. Os babuínos solitários, por exemplo, tinham menos laços sociais e menos parceiros estáveis, além de sofrer mais stress. Por isso, mostravam uma saúde deteriorada e menos sucesso na reprodução. “Esse resultado nos permitiu mostrar, pela primeira vez em primatas selvagens, as relações entre características de personalidade, habilidades sociais e sucesso reprodutivo. Ao ser um babuíno agradável, o animal aumenta suas chances de ter laços sociais fortes, que podem ser traduzidos em maiores chances de transmitir seus genes”, diz o psicólogo Robert Seyfarth, um dos autores do estudo.
Os pesquisadores analisaram durante sete anos a dinâmica social e a saúde de um grupo de 45 babuínos fêmeas vivendo na Reserva Moremi Game, em Botsuana. Entre os babuínos, as fêmeas herdam sua posição hierárquica diretamente de suas mães, o que pode lhes dar acesso privilegiado a comida e parceiros. No entanto, nem sempre ser bem colocada na sociedade é sinônimo de sucesso reprodutivo. “O nível hierárquico não prevê tão bem o sucesso reprodutivo quanto as redes de relações sociais e relacionamentos estáveis ao longo do tempo. Com isso, passamos a nos perguntar o que criaria essas redes sociais fortes”, diz Robert Seyfarth. Como resultado, descobriram que o número e a profundidade dos laços sociais são ditados pela personalidade dos animais �- não muito diferente do que acontece entre os humanos.
Grunhido social – Para medir o nível de sociabilidade dos babuínos, os pesquisadores levaram em conta diversos traços de sua personalidade. Eles, por exemplo, contaram com quantos parceiros o macaco se envolvia no hábito de catação, uma espécie de afago em que um macaco busca por parasitas nos pelos do outro. Eles também mediram a sua tendência a ser amigável ou agressivo com os outros e os grunhidos trocados durante a convivência, que servem para demonstrar intenções pacíficas e amistosas. Por fim, os cientistas mediram a relação dessas características com benefícios como tempo de vida do indivíduo e número de filhos.
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Com essas informações, eles classificaram os animais nos três tipos de personalidade. As fêmeas agradáveis eram amigáveis com todas as outras, e grunhiam bastante, inclusive para aquelas que estavam pior colocadas na hierarquia social. Elas formavam laços sociais fortes e duráveis, com preferências de parceiros estáveis ao longo do tempo.
As fêmeas indiferentes eram menos amigáveis e mais agressivas umas com as outras, grunhindo apenas para aquelas que estavam mais bem colocadas no ranking. Como resultado, elas formavam laços sociais mais fracos, mas tinham parceiros muito estáveis.
Já as solitárias andavam sozinhas na maior parte do tempo, eram muito pouco amigáveis e grunhiam só para as superiores hierárquicas – mas apenas em momentos em que podiam se beneficiar disso. Como resultado, formavam laços sociais fracos e trocavam de parceiros constantemente. Por isso, enfrentavam dificuldades na hora da reprodução, e sofriam maior stress social, acarretanto em uma saúde mais deteriorada.