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Exumação inédita de Dom Pedro I e suas mulheres permite confrontar registros históricos

Arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel realizou exames nos restos mortais do primeiro imperador do Brasil, de Dona Leopoldina e de Dona Amélia

Por Paola Bello
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h22 - Publicado em 19 fev 2013, 22h52
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  • O primeiro imperador brasileiro, Dom Pedro I, jamais fraturou a clavícula em uma queda de cavalo. Também não foi o responsável pelo empurrão escada abaixo que teria levado à fratura de um dos fêmures de Dona Leopoldina, sua primeira mulher. O pedido de Dona Amélia, segunda mulher do monarca, por um funeral modesto não foi atendido: ela teve o corpo mumificado.

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    Eis algumas das descobertas proporcionadas pela exumação dos restos mortais de Dom Pedro I e suas mulheres. Os exames foram feitos sob sigilo entre fevereiro e setembro de 2012, e divulgados na segunda-feira durante a defesa do trabalho de mestrado da arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).

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    Moradora do bairro de Ipiranga desde criança, Ambiel afirma que a falta de cuidados com a cripta onde estavam os restos mortais da primeira geração da família real sempre lhe incomdou. “Ficava muito preocupada com a umidade do local, que podia prejudicar os corpos”, afirma.

    O mestrado possibilitou que ela pudesse estudar a ação do tempo na tumba. “A intenção que sempre tive com meus estudos era a preservação. Queria ver realmente o estado em que eles se encontravam e o que poderia ser feito para preservar. Afinal, são uma parte importante de nossa história, e é importante ter isso para as próximas gerações”, completa.

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    Diferenciais – A pesquisa de Ambiel contou com uma equipe formada por historiadores, arqueólogos, físicos e médicos. Às análises de exumação, foram adicionados exames de tomografia, raios-x, ressonância magnética e uso de infravermelho, que permitiram não apenas o detalhamento dos restos mortais, mas também uma mudança na forma de se estudar arqueologia.

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    “Nossa pesquisa foi diferente porque não foi destrutiva, e isso é importante para a ciência”, explica Ambiel. “Com essas técnicas, você não precisa danificar a amostra a ser estudada; é possível ter um resultado sem ter que tirar um pedaço para análise”, completa.

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    Surpresa fúnebre – Dom Pedro I foi enterrado com roupas de general do exército português. Durante a exumação, foram identificados medalhas e galões de reconhecimento de Portugal. A única referência ao período que governou o Brasil está na tampa de chumbo de um de seus três caixões, onde foi gravado: “Primeiro Imperador do Brasil”, junto da menção “Rei de Portugal e Algarves”.

    Ao longo de seus 36 anos, Dom Pedro I fraturou quatro costelas, do lado esquerdo, o que pode ter prejudicado um de seus pulmões e agravado o quadro de tuberculose que o levou à morte, em 1834. A exumação também revelou que os trajes com os quais Dona Leopoldina foi enterrada eram os mesmos em que ela foi retratada algumas vezes, repleto de bordados em fios de prata.

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    A maior surpresa, porém, veio quando o caixão de Dona Amélia foi aberto. Diferente dos restos mortais de Dom Pedro I e de Dona Leopoldina, seu corpo estava mumificado, preservando inclusive cílios e cabelos. “Foi fantástico para mim, como arqueóloga, e acredito que a preservação do corpo de Dona Amélia é um presente para a ciência de nosso país”, afirma Ambiel.

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    Para a pesquisadora, a mumificação não passou de um acidente. “Acredito que não houve a intenção de se fazer uma múmia. Era preciso dar um preparo prévio ao corpo, para não decompor nos três dias de funeral, que era o costume da época. Depois, o corpo foi colocado em um caixão de madeira, envolto em chumbo, e fechado hermeticamente. Também não passou por tantos traslados. Essa combinação pode ter anulado algumas ações do processo de decomposição”, explica.

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    Outra descoberta, segundo a pesquisadora, ocorreu durante o exame da ossada de Dona Leopoldina. A expectativa era encontrar uma fratura em um dos fêmures da imperatriz. — isso porque a histografia registra que sua morte está relacionada a complicações na recuperação de uma fratura ocorrida depois de ela ter sido empurrada escada abaixo por D. Pedro I. “Com base em fontes primárias, vimos que a morte dela não foi consequência de uma agressão de Dom Pedro I. Não podemos falar que ela nunca tenha sido agredida, mas podemos garantir que nunca houve ato que levasse a alguma fratura, menos ainda que a pudesse levar à morte”, declara.

    Depois das pesquisas, os corpos receberam uma limpeza e foram devolvidos à cripta do Parque da Independência, no Ipiranga . O próximo passo é encontrar formas de preservá-los da ação do tempo e utilizá-los, ainda mais, em prol da ciência. Entre os projetos estão o estudo do DNA dos restos mortais e a reconstituição do rosto, a partir de projeções.

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