Ciência explica por que as conspirações estão destinadas ao fracasso
O físico David Grimes, da Universidade de Oxford, construiu uma equação para verificar por quanto tempo complôs podem durar até serem revelados
Uma conspiração dificilmente fica em segredo por muito tempo. De acordo com os cálculos do físico David Grimes, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, ela tende a ser revelada em média após quatro anos – alguém provavelmente fará uma delação e entregará o complô. Se nenhuma informação “vazar”, não havia conspiração alguma.
O objetivo do estudo, publicado na revista científica Plos One, na última semana, era analisar a viabilidade de algumas “conspirações da ciência”. Grimes também trabalha como jornalista científico e estava intrigado com as dúvidas de leitores a respeito de supostos complôs que seriam perpetuados por pesquisadores como, por exemplo, o de que as vacinas fariam mal à saúde.
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Equação do complô – Para descobrir como se forma e se perpetua uma conspiração, Grimes fez um cálculo com base em três fatores: o número de conspiradores, o período de tempo que se passou desde a conspiração e a possibilidade de o conluio ser revelado. Essas três variáveis foram aplicadas a quatro supostas conspirações: a farsa da chegada do homem à Lua, a ideia de que as mudanças climáticas seriam uma fraude, o boato de que as vacinas prejudicam a saúde e a alegação de que a indústria farmacêutica conhece a cura do câncer, mas a esconde da população.
Quanto mais tempo se passa depois da “conspiração” e quanto mais pessoas têm conhecimento do segredo, menor é o tempo até que um delator apareça e acabe com o esquema. A teoria de que o pouso na Lua não aconteceu teria envolvido 411.000 pessoas; a fraude das mudanças climáticas, 405.000; a ideia de que as vacinas fazem mal à saúde, de 22.000 (apenas a Organização Mundial da Saúde e o Centro para Controle e Prevenção de Doenças americano) a 736.000 pessoas (incluindo as companhias farmacêuticas); o boato de que a cura do câncer está encoberta pela indústria, 714.000 pessoas.
Cruzando os dados, por meio de uma equação chamada distribuição de Poisson, que calcula a probabilidade de um evento acontecer em um período de tempo, Grimes verificou que se verdadeiras, as quatro conspirações analisadas por ele já deveriam ter sido reveladas há muito tempo. A farsa da chegada do homem à Lua teria se tornado pública 3,7 anos depois que surgiu e a crença de que a cura do câncer já existe, mas é impedida de avançar pelas indústrias farmacêuticas, seria aniquilada em 3,2 anos. Já a crença de que o aquecimento global não existe seria desmascarada em um período de 3,7 anos a 26,8 anos e a conspiração das vacinas duraria entre 3,2 anos e 34,8 anos. Se a delação ainda não aconteceu, é possível que a conspiração não exista.
“A teoria apresentada neste estudo pode ser útil para sabermos as possíveis consequências de falsas narrativas e examinarmos as condições em que estas conspirações podem surgir”, afirmou o físico no estudo.
‘Conspiração científica’ – De acordo com Grimes, enquanto acreditar que o homem não chegou à Lua pode não fazer mal à saúde, a crença de que as vacinas causam doenças pode ser fatal. Como o rigor científico costuma ser alto, é altamente improvável que uma conspiração feita por pesquisadores se mantenha por longo tempo.
“Embora acredite que seja difícil mudar a opinião dos convictos, espero que esse artigo seja útil para aqueles que têm dúvidas sobre a possibilidade de cientistas perpetuarem, ou não, um boato”, disse o físico à BBC.
(Da redação)