Cepa da Peste Negra chegou ao Reino Unido milênios antes do surto fatal
Vestígios da bactéria foram encontrados em dentes de pessoas enterradas em locais da Idade do Bronze
O DNA de uma cepa de bactérias responsáveis pelo surto de Peste Negra que assolou a Europa na Idade Média foi encontrado nos dentes de três indivíduos enterrados no Reino Unido. O surpreendente nessa descoberta é que essas pessoas viveram no país milhares de anos antes da pandemia fazer suas primeiras vítimas.
Traços de Yersinia pestis foram detectados em dois adolescentes enterrados em uma vala comum em Charterhouse Warren, em Somerset, no sudoeste da Inglaterra. A terceira pessoa seria uma mulher, entre 35 e 45 anos, que foi sepultada em Levens Park, Cumbria. Os três viveram na mesma época, mas as análises não permitiram concluir que a bactéria foi a causadora das mortes.
Isso porque os corpos foram encontrados em um poço natural onde pelo menos 40 homens, mulheres e crianças foram enterrados. As ossadas estavam desmembradas e traziam sinais de extrema violência, o que não é comum no início da Idade do Bronze na Grã-Bretanha. Por esse motivo, ainda não é possível dizer o que aconteceu no local e se há alguma conexão ou não entre a doença e o evento violento que pode ter ocorrido na região.
A descoberta da peste também intriga os pesquisadores, já que a doença não costuma deixar vestígios no esqueleto. A cepa identificada é ligeiramente diferente de sua versão posterior, que vitimou milhões de pessoas na Europa e no Oriente Médio. As descobertas evidenciam, no entanto, que um surto da praga percorreu a Eurásia no início da Idade do Bronze e se espalhou para noroeste, cruzando o mar até chegar na Grã-Bretanha.
Isso aconteceu milhares de anos antes do conhecido surto de peste bubônica, tornando a cepa a mais antiga já encontrada na ilha. Estudos anteriores já tinham mapeado sinais de peste na Eurásia entre 5.000 e 2.500 anos atrás, mas ainda não havia sinais de sua chegada à Grã-Bretanha.
As análises de DNA mostram que a versão de Yersinia pestis que infectou esses indivíduos ainda não tinha os genes de cepas posteriores, que fizeram com a praga se propagasse através de pulgas, levando a forma bubônica da doença que resultou na pandemia que matou metade da população europeia no século XIV.
A versão encontrada pelos pesquisadores chegou à região há aproximadamente 4.000 anos e devia ser a forma pneumônica da bactéria, que pode ser contraída a partir da inspiração de gotículas contaminadas, causando febre, fraqueza, dores de cabeça e pneumonia.
O grupo de pesquisadores pretende mapear outras doenças e acredita que pesquisas futuras poderão ajudar a entender como o genoma humano respondeu a esse tipo de evento no passado e a corrida evolutiva dos nossos organismos contra diversos tipos de agentes patogênicos. Essa perspectiva poderá ser útil na compreensão do impacto das doenças no passado, no presente e até mesmo no futuro.