Uma pesquisa da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, se propôs a estimar quais animais correriam mais risco de extinção no futuro. A resposta mostra que os principais prejudicados serão de espécies marinhas que habitam pontos dos trópicos, como o Caribe e a região Indo-Pacífico.
Para chegar a essa conclusão, os estudiosos analisaram registros fósseis dos últimos 23 milhões de anos para estabelecer uma “taxa natural de extinção” e então acrescentaram à equação o fator humano, em especial o aquecimento global que acometeu o planeta em consequência das ações do homem. Autor do estudo e professor de biologia da Universidade de Berkeley, Seth Finnegan conversou com o site de VEJA sobre o trabalho.
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O senhor analisou milhões de anos de idas e vindas de espécies, por meio de registros fósseis, para estabelecer a “taxa natural de extinção”. Quais fatores eram os mais influentes para determinar quais sobreviveriam, e quais desapareceriam? Nós estudamos fósseis marinhos justamente para determinar quais eram as características dos animais que tinham maior risco de extinção no passado. Acabamos descobrindo que os melhores indicadores eram a distribuição geográfica das espécies e também a qual grupo taxonômico pertenciam. Na prática, em condições idênticas de habitat, um animal que tenha um menor alcance geográfico terá riscos maiores. Assim percebemos que grupos como baleias, golfinhos e focas estão mais ameaçados que, por exemplo, caramujos e mariscos.
Mas como descobriram que os fatores que determinavam a “taxa natural de extinção” continuavam os mesmos? Uma de nossas descobertas-chave foi constatar que, se você souber o padrão de extinção em um intervalo de tempo, é possível fazer uma previsão razoavelmente boa sobre quais grupos desapareceriam depois. A maior parte de nossas projeções feitas com essa estratégia, usando dados do passado, mostraram-se corretas. Isso não significa que não há variação desse risco ao longo do tempo. Existem diferenças, que são interessantes e informativas. Mas, de modo geral, o processo se mostrou confiável. O que é muito importante: se não fosse verdade, se os padrões de extinção fossem completamente imprevisíveis, as lições do passado seriam irrelevantes para nos ajudar a remediar a nossa crise atual de biodiversidade.
Como o fator humano foi somado à equação? Pela análise dos registros fósseis, já tínhamos elaborado o “risco natural de extinção” dos descendentes desses animais antigos que vivem hoje nos oceanos. Então somamos a essa projeção o que nos mostraram alguns estudos já feitos sobre a pressão humana no ambiente marinho, como a pesca e as mudanças climáticas. Esse processo revelou algumas áreas, como o Caribe e a região Indo-Pacífica, que podem ser mais sensíveis e assim requerem um esforço extra de conservação.
Por que os animais marinhos dos trópicos são os mais ameaçados? Geralmente, porque têm pouco alcance geográfico e possuem entre seus ancestrais animais que experimentaram uma alta taxa de extinção durante o período geológico. Outra região vulnerável é a Antártica, por abrigar muitos animais endêmicos, ou seja, que só podem ser encontrados lá.
De que forma acontece a interação entre os fatores do “risco natural de extinção”, ao qual se soma a distribuição geográfica e o grupo taxonômico, com o fator humano? Nós ainda não sabemos como o risco natural e as ameaças atuais vão interagir e, essencialmente, é essa relação que controlará o risco real de extinção no futuro. Um dos nossos objetivos ao escrever esse artigo é colocar essa questão em destaque com esperança de que consigamos encontrar uma resposta.