O desabastecimento de oxigênio em unidades de atendimento a pacientes com Covid-19 em Manaus se agravou nesta quinta-feira, 14, e alguns hospitais da capital amazonense já não têm mais o insumo para manter o tratamento dos internados. Houve mortes por asfixia. Com uma explosão no número de casos do novo coronavírus nos últimos dois meses, o consumo de oxigênio passou de 176.000 para 850.000 metros cúbicos ao mês, segundo o governo estadual, demanda que os fornecedores não têm conseguido suprir. Para tentar frear a curva de casos e mortes, o governo decretou toque de recolher em Manaus entre 19h e 6h.
Profissionais da Saúde manauara relatam falta de oxigênio em unidades como o Hospital Universitário Getúlio Vargas, administrado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e em serviços de pronto-atendimento, como a Dr. José de Jesus Lins de Albuquerque, no bairro da Redenção. Também há relatos sobre pacientes sendo “ambuzados”, ou seja, com fornecimento de oxigênio manual por técnicos de enfermagem e enfermeiros.
O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), disse a VEJA nesta quinta que o estado foi informado nesta madrugada pela fornecedora de oxigênio líquido de que haveria desabastecimento, por falta de capacidade de fornecimento. “Ainda estamos apurando, acompanhando em hospitais da rede pública e da privada qual vai ser o dano no dia de hoje”, diz o governador.
Ao lado do Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde está fazendo triagens de pacientes com casos moderados de Covid-19 para transferi-los a outras capitais. Cerca de 750 pessoas serão removidas, a maior parte a hospitais universitários federais. A primeira a recebê-los será Goiânia e, a princípio, também haverá internações em Teresina, São Luís, Brasília, João Pessoa e Natal. As viagens serão feitas por meio de uma empresa aérea que firmou parceria com o ministério, em aviões adaptados.
Ainda segundo Wilson Lima, embora o governo federal atue para enviar cilindros de oxigênio a Manaus, não se sabe se a cidade receberá os insumos ainda hoje.
“Não sei se vamos ter alguma carga hoje, porque temos uma dificuldade muito grande de logística para que esse produto chegue aqui. Não temos carretas adaptadas para isso disponíveis no mercado, veículos configurados para essa destinação. Não é uma prática comum aqui na região, nunca tivemos situação como essa. Estamos tendo muita dificuldade. A quantidade ainda é muito pequena”, afirmou.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, esteve na capital amazonense nesta semana. Segundo a pasta, está sendo coordenado o envio de 1.500 cilindros à cidade por meio de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), além de 78 ventiladores pulmonares e 500 profissionais de saúde. Durante a visita de Pazuello a Manaus, o presidente Jair Bolsonaro criticou as autoridades locais por “deixarem acabar” o oxigênio e disse ter sido necessário “interferir” na cidade. O governo pressionou a prefeitura a implementar o “tratamento precoce” contra a Covid-19, que inclui medicamentos como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, e classificou como “inadmissível” que ele não tenha sido adotado diante da calamidade.
Em contato com a reportagem, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), declarou que a rede privada também tem “poucas horas de oxigênio”. “É um dos dias mais tristes da história de Manaus”, diz Almeida, que assumiu o cargo no início do ano. “O Amazonas paga e sofre com o isolamento por preservar o meio ambiente. O oxigênio que chega de São Paulo ao Ceará em um dia por meio de carretas, pode levar dois dias para chegar a Manaus”, afirmou.
“De todas as cidades do Amazonas, Manaus é a cidade com menor cobertura na atenção básica de saúde, isso se reflete no atendimento de alta complexidade. Também é a única capital que não tem serviço de verificação de óbitos”, completou o prefeito.