Polícia cria falso candidato para prender 25 traficantes em favela
Agentes disfarçados mapearam pontos de tráfico, filmaram movimentação da quadrilha e desbarataram esquema de quadrilha em Heliópolis
Recorrer a agentes infiltrados para reunir provas e prender criminosos é um expediente conhecido das polícias do mundo todo. Mas a Polícia Civil de São Paulo, desta vez, inovou: inventou um candidato a deputado estadual com nome e partido inexistentes e o sugestivo número 70.171 para desbaratar uma quadrilha de traficantes na zona sul da capital, na favela de Heliópolis.
Para fazer campanha para Cosme da Vila, nome inventado para o postulante ao legislativo do estado, agentes disfarçados circularam livremente pela comunidade por dois meses, levando a tiracolo cabos eleitorais, supostos políticos que o apoiariam e até um espalhafatoso carro de som, que servia para esconder câmeras que registravam a ação da quadrilha – entre elas cargas de maconha, crack e cocaína.
Na tarde de sexta-feira, os policiais do Grupamento Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) deflagraram a operação que resultou na prisão de 25 acusados de integrar a quadrilha de traficantes de Heliópólis.
A proximidade entre políticos ‘barra pesada’ e criminosos em comunidades carentes passou a ser, nas últimas eleições, uma preocupação da Justiça Eleitoral, que combate a formação de currais eleitorais explorados por traficantes ou grupos de milicianos – como já ocorreu no Rio de Janeiro. Desta vez, no entanto, a intimidade com os bandidos pode ter ajudado a polícia a botar a mão em um peixe grande. Os agentes capturaram um dos homens apontados como chefão do tráfico na região.
Insuspeita, a campanha de Cosme – na verdade o folheto foi feito a partir de fotos obtidas na internet – chegou a receber apoio de líderes locais e conquistou a confiança dos bandidos que se julgam ‘donos’ da favela. Ninguém, nesse período, suspeitou da numeração escolhida para o falso candidato – os últimos três algarismos do número de Cosme, que ‘concorria’ com o 70.171, é uma referência ao artigo do Código Penal para o crime de estelionato. Ou, no ‘popular’, aquele que costuma enganar para obter vantagem.