Poucos lugares do Rio de Janeiro sofreram tanto os efeitos colaterais das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) quanto São Gonçalo, município de pouco mais de 1 milhão de habitantes, vizinho a Niterói. Já no início do programa de ocupação de territórios na capital fluminense, entre 2010 e 2011, bandidos começaram a migrar para tentar buscar outros territórios e expandir seus domínios criminosos. Com isso, o complexo de favelas do Salgueiro tornou-se um dos principais ‘esconderijos’ de perigosos traficantes da facção Comando Vermelho. No fim da manhã de hoje, policiais civis capturaram o responsável por dar abrigo a esses foragidos. Marcelo da Silva Leitão, o Bigode, de 27 anos, estava em um pequeno sítio que havia começado a reformar, na cidade de Casimiro de Abreu, e não reagiu.
Ovelha, como também era chamado, é o homem de confiança de Antônio Hilário Ferreira, o Rabicó, que domina a região, mesmo estando preso desde 2008. Há dois anos, a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal foi responsável pelo maior derrame financeiro já sofrido pela quadrilha que comanda a região de São Gonçalo, ao apreender mais de 3,5 milhões de reais em espécie, além de 51 quilos de cocaína pura e outros 20 quilos de ouro. Rabicó, na época, perdeu também seu principal articulador na rua, o engenheiro ambiental Jorge Luís Reis, funcionário de uma empresa que prestava serviços à Petrobras e que havia se tornado o contador do bando.
As investigações da 72ª DP (Mutuá), responsável pela prisão, tentam montar o novo quebra-cabeças de Rabicó. Há um mês, ele determinou que Bigode se afastasse do dia a dia da favela. Imediatamente, o traficante arrumou uma casa em Casimiro de Abreu e começou a reformá-la. O objetivo era administrar os negócios de fora, sem correr o risco dos constantes tiroteios. Após passar seis anos preso, o criminoso não devia nada à Justiça. Ontem, um novo mandado de prisão contra ele foi expedido pela 2ª Vara Criminal de São Gonçalo: “As investigações vão prosseguir para que seja verificado se Marcelo teria subido mais um degrau na hierarquia da quadrilha”, diz a delegada Raíssa Celles.
Fora do Complexo do Salgueiro – uma região que a polícia estima contar com mais de 200 homens armados com fuzis, granadas e pistolas -, Bigode recebia cerca de 15 000 semanais de “salário”. Para tomar conta das bocas de fumo na própria favela, ele colocou Thomaz Jhayson Vieira Gomes, o Neném.