Não tenho dúvida de que há indícios de genocídio, diz Dino sobre ianomâmis
Segundo o ministro, de acordo com o histórico, agentes públicos em todos os escalões tinham conhecimento da crise e não atuaram para solucioná-la
A Polícia Federal vai investigar se houve omissão por parte de agentes públicos que levaram à crise humanitária na Terra Indígena Yanomami. A afirmação foi feita pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, nesta segunda-feira, 23.
De acordo com Dino, o histórico levantado até o momento e a situação encontrada na área levantam indícios de que agentes públicos, em todos os escalões, sabiam sobre a crise enfrentada no território e não fizeram nada para solucioná-la: “Não tenho nenhuma dúvida técnica, embora evidentemente não me caiba julgar, de que há indícios fortíssimos de materialidade do crime de genocídio”, afirmou o ministro em entrevista coletiva.
Flávio Dino enviou ofício ao diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, no qual avalia que “mortes por desnutrição ou por doenças tratáveis, pouco ou nenhum acesso aos serviços de saúde, medidas insuficientes para a proteção dos ianomâmis, além do desvio na compra de medicamentos e de vacinas destinadas a proteção desse povo contra a Covid-19, conduzem a um cenário de possível desmonte intencional contra os indígenas ianomâmi ou genocídio”.
No sábado, o ministro anunciou a abertura de inquérito para apurar crime de genocídio e contra o meio ambiente. A Polícia Federal ficará responsável pela investigação. Ele esteve em Roraima com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar da crise sanitária na reserva. “A PF deve apurar se foi algo doloso ou foi puramente negligência. O que vimos no sábado é que há um desmonte na estrutura de atendimento aos ianomâmis”.
O Ministério dos Povos Indígenas divulgou que 99 crianças do povo ianomâmi morreram devido ao avanço do garimpo ilegal na região em 2022. As vítimas eram crianças entre 1 e 4 anos. As causas da morte são, na maioria, por desnutrição, pneumonia e diarreia.