O juiz federal Sergio Moro afirmou, em entrevista ao jornal argentino Clarín, que considera um problema os brasileiros acreditarem em “salvadores da pátria”. O magistrado, que frequentemente é lembrado como super-herói em manifestações pró-Lava Jato e tietado em lugares públicos, se queixou do “foco demasiado” que dão à sua pessoa e lembrou que ele apenas faz parte de um processo.
“Nós temos um problema no Brasil — não sei se isso acontece também na Argentina — de crer em salvadores da pátria. Isso é muito infantil. É preciso construir as instituições dia a dia. Acredito que exista um foco demasiado na minha pessoa, quando existe uma polícia que investiga, um Ministério Público que acusa, e no poder judiciário há outros tribunais que revisam minhas decisões. Somos todos parte de um processo”, afirmou o magistrado, que esteve nesta semana em Buenos Aires para uma conferência na Universidade Católica da Argentina (UCA).
Perguntado sobre quanto tempo durará a Lava Jato, Moro respondeu que, da parte do caso que compete a ele, as investigações já estão “bastante avançadas”. “Já cruzamos metade do rio. O problema é que vão surgindo novas provas, porque é uma corrupção sistêmica. E não se pode esconder nada debaixo do tapete. A Lava Jato um dia vai terminar. E teremos que seguir: pode haver novos casos de corrupção e a historia não se acaba”, afirmou.
Ressaltando que leva de seis meses a um ano para condenar ou absolver um investigado, Moro discorreu sobre os problemas da morosidade na Justiça. Explicou que o excesso de garantias constitucionais e possibilidade de recursos foram criados para evitar os abusos cometidos durante as ditaduras militares. “Mas agora estamos na democracia e os atos de corrupção também são um atentado a democracia. Muitos poderosos se servem desse sistema para buscar a impunidade. A maioria dos crimes de corrupção não são descobertos”, completou.
Críticas
O juiz também reconheceu se incomodar com críticas “não muito procedentes” feitas a ele e à Lava Jato, especialmente as que o acusam de partidarismo. “Apesar de a opinião pública brasileira estar, majoritariamente, a favor das operações, há uma minoria mais crítica e ruidosa que às vezes incomoda. Principalmente quando se tenta relacionar meu trabalho como se tivesse uma intenção político-partidária”, disse
Questionado sobre as suspeitas que envolvem o grupo Odebrecht, que também atua na Argentina, Moro comentou que as empresas envolvidas (não citou-as nominalmente) tiveram uma postura agressiva no início da investigação, mas depois decidiram assumir os seus erros e ressarcir os cofres públicos. Para ele, concluiu, “uma empresa regenerada é melhor que uma empresa falida”.