O menor apreendido na madrugada desta sexta-feira por suposta participação na morte de Cinthya Magaly Moutinho de Souza, de 47 anos, deu o nome de Jonatas Cassiano Araújo, de 21 anos, como um dos envolvidos no assassino da dentista, queimada viva durante um assalto ao seu consultório em São Bernardo do Campo. Segundo o adolescente, de 17 anos, Jonatas lhe telefonou confessando o crime, que aconteceu na tarde desta quinta-feira e chocou a cidade do ABC Paulista. A polícia agora busca por Jonatas e os outros dois suspeitos.
O menor foi pego em casa, também em São Bernardo, por volta das 2h30 da madrugada, após uma denúncia anônima feita à Polícia Militar. A corporação disse inicialmente, em nota, que ele próprio havia confessado o crime. No entanto, acabou liberado do 2º DP da cidade depois que seu envolvimento foi descartado.
Segundo o delegado seccional de São Bernardo, Waldomiro Bueno Filho, o menor contou que chegou a ser convidado para o roubo, mas não pôde ir – o motivo não foi esclarecido. Também afirmou que um dos suspeitos ligou para ele depois do assassinato. “O colega telefonou dizendo que tinha dado m….”, afirmou o delegado. A mãe de Jonatas foi identificada pela PM na noite de quinta e reconheceu o filho em imagens de uma câmera de segurança mostradas na delegacia. Ela foi encontrada porque seu carro, um Audi preto, foi usado na ação pelos bandidos. O veículo foi apreendido e passa por perícia.
Na casa de Jonatas também foi encontrado um Honda Fit roubado em um assalto a outro consultório dentário, no Sacomã, no dia 18 deste mês – o que reforça a tese da polícia de que se trata de uma quadrilha de assalto a consultórios. Segundo a polícia, Jonatas teria participado de três roubos a consultórios, no total, além de um assalto à residência.
A polícia já confirmou que são quatro os envolvidos no roubo que resultou na morte de Cinthya. O quarto bandido aguardava na frente do consultório, dentro do Audi preto. “Temos investigações em andamento, já temos imagens de um dos bandidos e em pouco espaço de tempo vamos tirá-los de circulação”, afirmou o delegado.
O crime – Os ladrões invadiram a clínica odontológica a Cinthya que, como não tinha dinheiro no local, deu o cartão do banco e a senha para os bandidos. Dois deles, sendo que um seria Jonatas, foram até um caixa eletrônico em uma loja de conveniência a menos de um quilômetro de onde as vítimas estavam rendidas para fazer o saque. Após constatarem que a dentista só tinha 30 reais na conta, eles retornaram ao consultório, atearam fogo na vítima e fugiram.
Cinthya atendia uma paciente – cujo nome não foi divulgado – quando os criminosos apertaram a campainha. Ela permaneceu encapuzada durante todo o assalto e teve a bolsa, o celular e dinheiro roubados, mas não ficou ferida. Segundo o delegado, a paciente conseguia ouvir a dentista gritando “não faz isso” e pedindo socorro. “Ela tentou apagar o fogo quando os bandidos fugiram, mas não foi possível. A dentista morreu em menos de três minutos.”
Vizinha de Cinthya, Lindacim de Olivera, de 54 anos, sentiu o cheiro de queimado e ouviu os gritos da dentista. Foi ela quem chamou o Corpo de Bombeiros. “Ouvi alguém pedindo socorro e fui até o portão do consultório ver o que estava acontecendo.”
O consultório de Cinthya funcionava nos fundos da casa onde ela morava com os pais e uma irmã, que tem deficiência mental. O pai da vítima, Viriato Gomes de Souza, de 70 anos, afirmou que ela não costumava ficar sozinha em casa no horário do almoço. “Ela ia buscar a irmã na escola, mas, como tinha uma paciente, eu fui com a minha mulher.” Quando o pai chegou à rua, viu a movimentação na frente de casa. Foi avisado pelos vizinhos da morte da filha. “Quis entrar, tentei reanimá-la, mas já não dava para fazer nada.”
Emocionado, ele diz não saber o motivo de tamanha brutalidade. “Ela era uma pessoa boa, sem inimigos. Agora, a gente não sabe o que vai fazer da vida, se continuará morando lá. Espero que ninguém precise passar pela dor que estou passando.” O enterro da dentista está marcado para as 13h no Cemitério Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.
(Com Estadão Conteúdo e reportagem de Letícia Cislinschi)